Empresas francesas monitoram crise e veem próximos dias como decisivos

Novo presidente da Câmara de Comércio França-Brasil diz que empresas francesas estão com células de crise ativadas, boa parte monitorando com grupos intensos que olham só para isso. 

As empresas francesas no Brasil estão com o “modo crise” acionado, acompanhando de perto os desdobramentos do coronavírus no país, de acordo com Stéphane Engelhard, vice- presidente do Carrefour e novo presidente da Câmara de Comércio França-Brasil (CCIFB-SP). 

Além do cancelamento de eventos, a tendência é mais companhias recomendarem home office aos funcionários – o que pode funcionar, “mas é uma logística muito mais complexa”, afirma Engelhard, que assume a presidência da CCIFB amanhã. “Pode ser até que tenha algumas companhias fechando temporariamente. Nossas empresas estão com células de crise ativadas, boa parte monitorando com grupos intensos que olham só para isso.” 

Para grandes varejistas, por exemplo, existe o risco de queda no consumo, caso pessoas optem pelo auto isolamento. Engelhard diz que os reflexos ainda não chegaram de forma expressiva aos consumidores, mas os próximos dias serão “muito importantes para entender o que vai acontecer”. Por ora, as empresas associadas à CCIFB mais afetadas são aquelas ligadas a setores de viagem e eventos, que, nas palavras do executivo, estão “sinistradas”. 

Questionado se companhias francesas estão preparadas para lidar com choques ou se precisarão de ajuda do governo brasileiro, Engelhard disse que ainda é “muito cedo para dizer” e que dependerá do cenário. Ele lembra que o ciclo do coronavírus no Brasil está “defasado” em relação a outros países. “Está chegando aqui, com certeza vai crescer esse número de portadores, mas é muito difícil dizer o que vai acontecer. O Brasil está na fase um. Se passar para a três, aí estará no modelo italiano, de fechar o país. Não é o momento, mas é possível que chegue. Se subir nas fases, o governo pode pedir, como na Europa, para fechar comércio.” 

A crise pode ter o efeito colateral de acelerar a aprovação de reformas importantes, avalia Engelhard. “Daqui a pouco não tem mais importações da China, nossa fábrica mundial. Vamos ter, provavelmente, queda de PIB [Produto Interno Bruto] no Brasil”, diz. “Essa situação favorece melhor comunicação entre o governo e o Congresso.” 

A demora no andamento das reformas já afetava a confiança dos empresários franceses antes da pandemia. A pesquisa “Barômetro CCIFB – IPSOS”, realizada com executivos das associadas no segundo semestre de 2019, mostra que 73% achavam que este ano seria melhor ou muito melhor do que 2019, ante 81% na pesquisa feita em 2018, a respeito do ano seguinte. A participação de quem acha que será igual subiu de 15% para 21%, enquanto os entrevistados que citaram piora de cenário passaram de 4% para 6%. 

“O ano foi de chegada de um novo governo, havia expectativas grandes. Ao longo de 2019, vê- se que começou a existir certa dúvida de algumas empresas sobre o governo e como ele pode fazer votar reformas, a coisa engrenar”, afirma Engelhard. O movimento, ele diz, é compreensível. “Quando a gente olha o filme de 2019, tivemos a [reforma da] Previdência, que foi aprovada, mas muito mais tarde do que se imaginava. E a gente vê a dificuldade de relação do governo com o Congresso, isso cria certa incerteza.” 

Entre os riscos apontados para os próximos meses pelos empresários, estão a não aprovação das reformas (42%) e o aumento de tensões políticas (41%). Dos entrevistados, 89% mencionaram a reforma tributária como um dos três projetos mais importantes para seus negócios. “Só a simplificação já ajudaria muito. A empresa no Brasil tem departamento de tributos com 200 pessoas, na França faz o trabalho com dez. A multiplicidade de impostos que tem não dá”, afirma Engelhard. 

Apesar disso, ele diz que o potencial do mercado no Brasil atrai o empresário francês e as relações entre os países são sólidas – a CCIFB-SP completa 120 anos no Brasil. “Independentemente de governo A, B ou C, empresas francesas não deixaram de investir no país. Pode ser que os investimentos se estabilizem em relação a 2019, que foi recorde, mas ainda seria volume relevante.”

Fonte: Valor Econômico.

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