Inflação e crise hídrica ameaçam economia brasileira, afirma economista

Até o fim de 2021, o Brasil deve ter um nível de vacinação contra Covid-19 semelhante aos melhores países da Europa. O País conta hoje com o melhor fluxo cambial desde 2015. As contas externas estão em situação bastante favorável. O déficit primário deve ficar em apenas 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB). A dívida pública deve chegar a dezembro no valor de 61% do PIB, um percentual bem menor do que o conjunto das previsões mais sombrias. Por que, então, o setor financeiro está tão pessimista sobre o mercado brasileiro? O motivo é a percepção de que o Ministério da Economia procura soluções que contornem o teto de gastos para viabilizar um aumento do Bolsa Família em 2022, um ano eleitoral.

 

A opinião é de Carlos Kawall, diretor da Asa Investments, que foi o convidado da reunião conjunta entre o Canal Aberto e o Comitê Observatório Econômico da Câmara de Comércio Internacional França-Brasil de São Paulo (CCIFB-SP), no dia 24 de setembro de 2021. O último encontro do grupo foi realizado com Paulo Brandt, vice-governador de Minas Gerais.

 

Segundo Kawall, a ideia do Ministério da Economia de tributar dividendos é apenas um arremedo de reforma tributária, que visa somente, como assinalado acima, encontrar recursos para o aumento do programa Bolsa Família. O economista diz que o mesmo casuísmo vale para a proposta do governo ao Congresso Nacional de parcelar o pagamento de precatórios de R$ 89 bilhões em dez anos. Na prática, seria um calote para garantir verba ao programa assistencialista.

 

O ressurgimento da expansão inflacionária é outro componente que prejudica o crescimento da economia brasileira este ano, algo que deve permanecer em 2022. Isso vai obrigar o Banco Central a continuar com as altas nas taxas de juros, o que inibirá o crédito. Um problema adicional é a crise hídrica. Para Kawall, ainda que a previsão de racionamento seja de apenas 10%, a falta de água nos reservatórios já aumentou bastante os preços de energia elétrica, tarifas que deverão continuar elevadas por um bom tempo e pressionar fortemente os demais preços.

 

O diretor do Asa Investments acredita que o cenário global aponta as melhores perspectivas para a Zona do Euro, que deve encerrar 2021 com 5% de crescimento, um pouco abaixo dos Estados Unidos com 5,7%. A China deve chegar a dezembro com 7,5% de aumento do PIB, uma taxa ainda impressionante, mas com viés de baixa em 2022. A região asiática, de maneira geral, foi bem abalada pela variante Delta do Covid-19, o que prejudicou as cadeias globais de suprimentos da indústria.

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