Os economistas Octavio de Barros, vice-presidente da Câmara de Comércio França-Brasil (CCIFB-SP), Gustavo Arruda, do BNP Paribas, e Valdimir do Vale, do Crédit Agricole, avaliaram durante live do Observatório Econômico realizada no dia 8 de setembro, que a moeda americana deverá encerrar este ano na casa dos R$ 5,20, enquanto em 2021, a estimativa é de um patamar entre R$ 4,50 e R$ 4,75. Em outras palavras, houve um consenso em torno de alguma valorização do Real em 2021 na medida em que a depreciação cambial ocorrida nos últimos 12 meses (da ordem de 40%) gerou um forte ajuste externo no Brasil. O último encontro debateu o cenário global e doméstico examinando o que se pode esperar no contexto pós-pandemia.
De acordo com Barros, a fraqueza do dólar frente ao euro deve continuar pelo menos a médio prazo. Segundo ele, no momento, a política monetária bem mais expansionista nos Estados Unidos ao lado de uma resposta à pandemia considerada mais eficiente na Europa justificam essa percepção. A relação dólar/euro tende a se manter em patamares entre 1,20 e 1,30 dólares por euro por algum tempo. Ressaltou também que a atividade econômica tende a se recuperar um pouco mais rapidamente na Europa do que nos Estados Unidos com as políticas de estímulo fiscal que avançarão ainda ao longo de 2021. Outro ponto destacado sobre o cenário global por Octavio de Barros é a retomada rápida da China através de investimentos em infraestrutura e construção civil. Barros sinalizou também que a China, nesse momento, está tendo um papel determinante para os países da América Latina como o Brasil absorvendo volumes significativos de exportações de produtos primários como, minério de ferro, de soja e até mesmo milho e açúcar.
Já olhando para o cenário brasileiro, Gustavo Arruda afirmou que a economia brasileira tem apresentado recuperação mais forte do que o esperado, mas alertou que o ritmo de recuperação não deve ser mantido nos próximos trimestres. Em recente revisão, o BNP Paribas ajustou a projeção de queda do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para -5,0% em 2020 (comparado a -7,0% anteriormente). Essa revisão é explicada pelo maior gasto do governo federal, que acabou por alimentar o consumo das famílias, antecipando a recuperação esperada para os próximos trimestres. A decisão por maior gasto público não vem sem custo. Os atuais níveis de endividamento público limitarão fortemente o espaço para política pública no futuro. Com a dívida pública próxima a 100% do PIB, o Brasil, assim como outros países, podem ter seuritmo de crescimento reduzido. Além disso, Arruda alertou para os riscos políticos e fiscais. Arruda enfatizou que um ambiente político mais previsível facilitaria o retorno dos investimentos estrangeiros.
O economista Vladimir do Vale ressaltou as eleições americanas no cenário global como uma fonte potencial de volatilidade. Para ele, uma eventual vitória do candidato democrata Joe Biden seria positiva para setores relacionados à tecnologia e à sustentabilidade. Já no caso de reeleição do Presidente Donald Trump pode favorecer setores mais cíclicos e ligados à “velha economia”. Sobre o Brasil, sinalizou como positivo e essencial o movimento do governo de aproximação com o Congresso para aprovação das futuras reformas. Vale também ressaltou a necessidade de ações do governo para reduizr o desgaste da imagem do país em alguns temas que são cada vez mais sensíveis para os investidores internacionais, em especial na questão ambiental e na preservação da Amazônia.