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A Francesa Mais Brasileira À Frente da Moët Hennessy no Brasil

Após liderar operações em três continentes e 25 países da África, Catherine Petit comanda 19 marcas de bebidas e defende novos investimentos do LVMH.

“Hoje, todo mundo diz que sou mais brasileira do que francesa”, brinca, com um sotaque inquestionável, a diretora-geral da Moët Hennessy do Brasil, Catherine Petit. Bastaram algumas caipirinhas e um grupo de pagode na Vila Madalena para que ela decidisse ficar.
Formada em administração pela École Supérieure de Commerce de Paris, trabalhou com auditoria e seguros em países como Marrocos, Inglaterra, Argentina, Colômbia e Venezuela. “Morar fora muda muito a maneira de ver a vida.” Conheceu o universo das bebidas com a Pernod Ricard e, em 2007, chegou à Moët Hennessy.

Liderou operações em três continentes e 25 países da África e, após 15 anos, de volta à França, contou a uma coach da LVMH – grupo controlador da Moët – que sonhava um dia assumir a operação brasileira. O convite veio, e ela desembarcou no país em março de 2020, no início da pandemia.
À frente das 19 marcas da divisão de vinhos e destilados, além da vinícola Chandon, em Garibaldi (RS), Catherine defende investimentos do grupo no país que adotou como seu. “Estamos crescendo a duplo dígito ano após ano e com recorde histórico de consumo, prontos para um novo patamar.”

A seguir, confira os destaques da entrevista com Catherine Petit, diretora-geral da Moët Hennessy do Brasil


Forbes: Como foi sua primeira experiência internacional?

Catherine Petit: Comecei em auditoria, nada a ver com o que faço hoje. Trabalhei um ano na França e depois surgiu uma oportunidade no Marrocos. Quando me candidatei, ouvi que não poderia ir porque era mulher. Fui questionar o sócio, que me apoiou e me mandou para o Marrocos. Não tive problemas lá porque, se você não era muçulmano, não importava se fosse homem ou mulher. Mas vi de perto como era duro ser uma marroquina tentando construir uma carreira em 1996.


Em que momento chegou à América Latina?

Depois dessa experiência fora, tinha voltado para Paris, mas o tempo era triste e o francês, mal-humorado, então decidi conhecer outros lugares. Primeiro, fui para Londres. Depois, meu namorado da época jogava rugby e foi convidado para uma temporada em Buenos Aires. Eu consegui transferência, mas foi muito difícil. Os consultores falavam na minha cara que não queriam uma chefe mulher. Comecei a procurar emprego e me disseram que São Paulo estava bombando – eu nem sabia que tinha uma cidade com esse nome. Em 15 dias, arrumei um emprego na seguradora AGF, meu namorado conseguiu transferência e fomos de carro para o Brasil.
 

Quais foram as primeiras impressões?

Fiquei admirada com o calor e o otimismo do brasileiro. Mas foi um choque, a empresa impunha toque de recolher. Logo no primeiro fim de semana fomos para a Vila Madalena, começou a chover e entramos num barzinho. Todos começaram a rir dos gringos molhados, tocaram pagode a tarde toda, bebemos caipirinhas e eu pensei: “Acho que vou amar esse país”. Fiquei no Brasil, casei, tive filho, me separei. Depois de três anos, a Allianz tinha comprado a AGF e mandou todos os franceses embora, mas me senti acolhida e decidi ficar.


Qual foi sua primeira posição na Moët?

Trabalhava com América Latina, África, Oriente Médio e Canadá. O presidente na época me falou: “Seu trabalho é muito simples, é convencer a França de que a Nigéria é o país do futuro”. Foi um projeto pesado e cansativo, mas super apaixonante. Quando a África cresceu o suficiente para ser independente, ele me convidou para ser general manager, baseada na África do Sul. Meu filho tinha 14 anos, então pedi para ficar em Paris, que eu já conhecia. Depois de 15 anos de Brasil, nos expatriamos.


Como foi voltar para a França depois de uma temporada pelo mundo?

Para o meu filho, foi amor à primeira vista. Para mim, foi terrível. Morar fora muda muito a maneira de ver a vida. Eu tinha mudado muito e me dei conta de que lá tudo estava igual. O que mudou foi a moeda: quando saí da França, ainda era o franco. Quanto mais eu avançava, menos eu me reconhecia lá. Mas viajava muito a trabalho e conseguia escapar para 25 países da África.


Como recebeu o convite para assumir a liderança do Brasil? Já tinha essa ambição?

Minha carreira foi muito por acaso. Mas, quando voltei para a França, a LVMH me colocou num grupo de coaching para mulheres. Refleti sobre a minha carreira e entendi que ambição não é um palavrão. A coach me perguntou: “Qual é o seu sonho?” e eu falei que um dia gostaria de ser a diretora-geral do Brasil. Lembro que ela fez uma pirâmide com o Brasil em cima e um plano com tudo o que eu precisava construir até lá. Quando veio a proposta, escrevi para ela. Estavam precisando de alguém que entendesse a cultura brasileira, mas que soubesse fazer o canal com a França.


Qual é a importância do Brasil para o grupo?

Ainda é pequena. A América Latina representa 15% do faturamento e nós, dentro da região, cerca de 20%, mas estamos crescendo a duplo dígito ano após ano. Agora que fizemos uma transformação pós-Covid e um trabalho de comunicação com a França de vender mais o Brasil, estamos prontos para mudar de patamar. Eles estão começando a olhar mais para a América Latina e para o Brasil, em particular, como um país interessante para investir.


Como enxerga a relação entre maternidade e carreira?

A maternidade é uma escolha e uma bênção. Acredito muito em construir uma carreira e ter filhos. Não é fácil, não é fraqueza, mas é um desafio a mais. Passei muito tempo viajando, longe do meu filho, e levei uma culpa enorme por isso. Mas depois me dei conta de que, na verdade, o mais importante não é a quantidade de tempo que você passa com o seu filho, é a qualidade. Toda vez que eu estava em casa, era 100% dele. Teria adorado ter mais tempo, mas ele se tornou um supermenino, mora na França e somos super próximos.


O que ainda quer fazer na sua vida e na carreira?

Eu amo o meu trabalho. O que eu mais gosto é gerenciar times, ver os talentos crescerem, especialmente as mulheres. E gosto muito dos negócios e de encontrar clientes. Não consigo ficar no escritório. Uma outra coisa sobre a qual tenho pensado mais e mais é retribuir e ajudar outras pessoas, principalmente jovens.


Fonte: https://forbes.com.br/forbes-mulher/2025/11/catherine-petit-diretora-geral-da-moet-hennessy-no-brasil/

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