São Paulo Webinar

Webinar aponta cenários econômicos para 2024

 

Ipsos e Observatório Econômico da CCIFB indicam que preocupação com inflação é maior em outros países do que no Brasil; da mesma forma, crescimento interno é mais promissor do que o global

 

O cenário econômico para o Brasil em 2024 e as comparações com o panorama mundial foram tema do webinar Perspectivas para a inflação em 2024: uma análise da Ipsos (Instituto especializado em pesquisa de mercado e opinião pública) e do Observatório Econômico da CCIFB, realizado no dia 14 de dezembro.

Os palestrantes convidados foram Marcos Calliari, CEO da IpsosPriscilla Branco, Gerente Sênior da área de Public Affairs e Corporate Reputation da Ipsos; e Gustavo Arruda, Economista-chefe do Banco BNP Paribas para a América Latina e líder do Observatório Econômico.

Calliari apresentou uma análise do Ipsos Global Inflation Monitor, uma pesquisa de opinião pública que aborda o tema da inflação sob o ponto de vista das populações de 33 países. Com ela, é possível entender como as pessoas enxergam suas atuais condições de vida, que expectativas têm de melhora, como percebem a “reduflação” (redução de quantidade de um produto sem alteração no seu preço) e suas percepções para o motivo da inflação.

No caso do Brasil, ele apresentou dados que indicam as maiores preocupações atuais da sociedade. No topo do ranking estão crime e violência, seguidos de pobreza e desigualdade e, em terceiro lugar, saúde. A inflação ocupa apenas a sexta posição, ao passo que em outros países é quase sempre a primeira – caso da França, inclusive, que aponta terrorismo e mudanças climáticas na sequência. Segundo Calliari, essas métricas não apenas indicam o contexto atual como apontam o comportamento de consumo em um futuro próximo. Quando a percepção com a economia é boa, aumenta a disposição de consumir e a vontade de inovação, além da tolerância e da proximidade entre as pessoas. Há, também, disposição para pressionar autoridades em temas que fogem do âmbito econômico. Na percepção negativa, ocorre o contrário: as pessoas priorizam suas necessidades e ficam mais favoráveis a intervenções na economia, além de mais individualistas.

A pesquisa apontou também fatores que contribuem para a percepção das pessoas sobre a inflação. Em boa parte dos países a imigração é citada como preocupação constante, o que revela influência de ideologias ou narrativas políticas conservadoras.

O CEO da Ipsos comentou, ainda, como a inflação impacta o portfólio de produtos na indústria. Segundo ele, mesmo os contextos não tão favoráveis trazem oportunidades de negócios, como, por exemplo, os alimentos funcionais, que se encaixam em novas categorias do segmento. “O uso de ingredientes mais elaborados às vezes permite a cobrança de um preço mais alto, assim como as embalagens mais sofisticadas. Mesmo o posicionamento ambiental de uma marca pode gerar valor e fazê-la lucrar mais apesar de momentos de crise”, explica o executivo. Essa conclusão se encaixa, para os brasileiros, na visão de que empresas podem ter papel ativo (e lucrar com isso) em questões deixadas no vácuo por instituições públicas, como meio ambiente ou desigualdade social. Já para os franceses, tal posicionamento é visto como ganância por parte das empresas e uma das causas que resultam em alta na inflação.

Para Gustavo Arruda, 2024 deve ser um ano em que os juros caem no mundo todo, em um processo que, na América Latina, é liderado pelo Brasil e Chile: “Os preços estão altos no Brasil, mas, se eles não sobem a inflação é zero. Essa é a diferença entre nível de preço e inflação, o que nem sempre está claro, mas já se reflete no consumo da população”, explica. “Tivemos, por exemplo, baixa no preço dos combustíveis, o que resulta em fretes mais baratos. Porém, nem sempre isso é repassado para o consumidor que, portanto, não vê diferença. Mas o preço do alimento não aumentou, o que já é importante.”

O economista-chefe do BNP Paribas destaca também o cenário do governo Lula, que foi eleito com um forte compromisso de gasto social. “É de se esperar que haja investimentos sociais e que o eventual desequilíbrio fiscal seja ajustado com mais impostos”, comenta. A percepção dos investidores estrangeiros não é abalada com isso; pelo contrário, atualmente, o Brasil vem recebendo olhares favoráveis: “A dívida atual do país é a mesma do pré-covid. Os outros países estão bem abaixo disso, em situação bem pior. A inflação prevista para 2024, que deve ficar em torno de 3,5%, é algo bem perto da meta, o que significa um cenário bem interessante para quem vê de fora. Se governo souber seguir nessas condições, a percepção de investidores e consumidores será boa.”

Octávio de Barros, vice-líder do Observatório Econômico, destaca que o descompasso entre o entendimento da população e a realidade econômica é global. Ele cita o caso dos Estados Unidos, onde a imagem do Governo Biden é incompatível com o momento atual da economia do país. Já na França, diz, as preocupações são novas. “A inflação está trazendo muito prejuízo para a opinião pública francesa. É algo que eles ainda não conhecem. As gerações mais jovens, especialmente, estão sofrendo muito porque não sabem como lidar com esse problema”, diz.

Para 2024, ele concorda que o cenário não é excepcional, mas se mostra muito mais favorável do que o visto em outros países. “O crescimento previso é pequeno, em torno de 2% e 3%, mas o cenário externo indica que os reflexos para o Brasil serão muito positivos”, finaliza.

 

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