São Paulo Atualidade das empresas
Francesa Vinci vence leilão da Rota dos Cristais, que liga Minas Gerais a Goiás; investimento é de R$ 6,6 bilhões
Grupo ofereceu maior deságio sobre a tarifa de pedágio: 14,32%
Por João Sorima Neto
O grupo francês Vinci, através da Vinci Highways, venceu o leilão de concessão da BR-040, que liga a cidade de Cristalina, em Goiás, à capital mineira Belo Horizonte, e é conhecida como Rota dos Cristais. A empresa ofereceu 14,32% de desconto sobre a tarifa de pedágio, critério escolhido para definir o vencedor.
O leilão aconteceu nesta quinta-feira na B3, em São Paulo, e o contrato de concessão é de 30 anos. Também fizeram lances as empresas CCR (ofereceu desconto de 1,75%), a gestora 4UM em consórcio com a gestora Oportunity (desconto de 9,09%) e o banco BTG (desconto de 7,50%). Mas acabaram sendo superadas pela proposta dos franceses.
No edital, a tarifa mínima de pedágio para pista simples era de R$ 0,1447 por quilômetro, enquanto para pista dupla o valor definido foi de R$ 0,1882 quilômetro. São sete praças de pedágio ao longo do trajeto concedido à iniciativa privada. O trecho leiloado tem 594 quilômetros de extensão e possui importância econômica e logística para o agronegócio, já que liga a região Centro Oeste do país, e os estados de Minas Gerais e o Rio de Janeiro.
Circulam no trecho 70 mil veículos por dia, sendo quase 70% de caminhões. O investimento previsto é de R$ 6,6 bilhões e o custo operacional chega a R$ 6,4 bilhões. A previsão é que a concessão gere mais de 94 mil empregos.
O grupo francês Vinci tem diversas concessões de aeroportos no Brasil, como os terminais de Rio Branco, Manaus, Boa Vista e Porto Velho, além do aeroporto de Salvador. A Vinci Highways, que faz parte do grupo, adquiriu do Grupo Pátria, em maio passado, 55% de participação na Entrevias, concessionária responsável pela operação de 570 km de rodovias em São Paulo, estreando em gestão de rodovias no Brasil.
O diretor executivo da Vinci Highways da América Latina, Laurent Cavrois, disse que a conquista da BR-040 é um passo importante da jornada da empresa no páis. Ele lembrou que a Vinci tem concessões de aeroportos, rodovias e ferrovias em mais de 20 países.
— Nosso objetivo é melhorar a mobilidade e agregar valor em cada etapa. Nossa história no Brasil começou em 2016 com a concessão do aeroporto de Salvador, que abriu caminho para os aeroportos da Amazônia e depois a entrada no setor rodoviário, o que parecia desafiador — afirmou Cravois, antes de bater o martelo após a vitória.
— A Vinci tem orgulho de se tornar opertadora de uma rodovia estratégica para Minas Gerais e Goiás para implementar o desenvolvimento econômico da região. Estamos prontos para torná-la mais segura e eficiente, e adaptada às novas necessidades do futuro.
Melhorias e duplicação
Entre as principais melhorias a serem implementadas na Rota dos Cristais, estão 342 quilômetros de faixas adicionais, duplicação de 9,9 quilômetros km da rodovia, e construção de 61,6 km de vias marginais. Também devem ser erguidas 43 passarelas de pedestres, executadas 18 passagens de fauna, instalados dois pontos de parada de descanso. Mais de 4,2 milhões de pessoas serão beneficiadas.
O ministro dos Transportes, Renan Filho, avaliou que o país passa por um período interessante nos leilões de concessões, com participantes consolidados, como a CCR, uma das maiores concessionárias do país, mas também novos interessados como o BTG e Oportunity, que passaram a olhar esses projetos recentemente.
— É uma construção coletiva. Estamos ouvindo o mercado para que os objetivos sejam atingidos, e os leilões sejam mais competitivos, com capacidade de atrair novos players e investimento internacional. Estamos conseguindo fazer isso e ajudar a avançar nossa infraestrutura — afirmou ele, avaliando que o desconto de 14,32% oferecido pela Vinci permite que a empresa faça os investimentos necessários. Ele lembrou que em leilões passados os descontos sobre o pedágio chegavam a 60%, o que comprometia o caixa das empresas para investir.
Este foi o quinto leilão de rodovias e mais cinco devem acontecer até o final do ano, disse o ministro. No primeiro semestre de 2025, estão previstos outros cinco. Renan Filho disse que a meta é chegar a 35 leilões no governo Lula.
— Além disso, queremos otimizar 14 contratos antigos. Ontem aprovamos no TCU a otimização da BR 101, no Espírito Santo. Permitindo que os contratos do passado voltem a performar, teremos 49 contratos performando no Brasil para melhorar a infraestrutura, contra seis leilões do governo anterior. São contratos mais modernos que permitem soluções para os conflitos do passado — garantiu.
Segundo o ministro, o novo leilão de otimização da BR-101 deve ocorrer no primeiro semestre de 2025 e será uma espécie de balizador para os próximos leilões desse tipo.
Além do ministro, também esteve noa B3, o vice-presidente Geraldo Alckmin.
Alckmin disse que entre os desafios do Brasil está trazer investimentos e este leilão é importantíssimo, porque traz produtividade , reduz o Custo Brasil e ajuda o agro, a indústria e o setor de serviços.
— Obras, construção geram empregos diretos e movimentam a economia. O Banco Central acabou de rever sua projeção, estimando que o Brasil vai crescer 3,2% este ano — disse Alckmin.
Além das vantagens econômicas, Alckmin citou a saúde: uma rodovia duplicada, com passarelas, é uma 'vacina' contra acidentes, disse o vice-presidente.
Cristalina, a cidade dos cristais
O trecho da BR-040 passou a ser chamado de Rota dos Cristais porque corta a cidade de Cristalina, em Minas, conhecida pela grande quantidade de cristais de rocha de todos os tipos e tamanhos que se encontram no solo. A região ganhou o nome de Serra dos Cristais.
Ali se buscava ouro. Mas dois franceses, Etienne Lepesqueur e Léon Laboissière, enviaram amostras dos cristais para Paris, onde foram vendidos por bom preço devido a sua pureza e qualidade. Depois, os cristais foram usados para a fabricação de instrumentos de ótica e em colares, tendo sido vendidos na França por alto valor.
Competição em leilões de rodovias aumenta
Guilherme Naves, sócio da consultoria Radar PPP, destacou a consolidação do ambiente competitivo para projetos de infraestrutura no país.
— Concorrência após concorrência, estamos vendo um número interessante de competidores e o surgimento de novos interessados, principalmente investidores financeiros — afirmou ele, avaliando que a Vinci se torna um player competitivo para os próximos leilões de rodovias.
Segundo Paulo Henrique Dantas, advogado especializado em infraestrutura e sócio do escritório Castro Barros Advogados, o resultado do leilão “é uma demonstração de que a Vinci está se consolidando como um dos grandes grupos de infraestrutura do Brasil".
— Ela consolida sua posição no setor de rodovias, assim como já tinha feito nos aeroportos. Isso reflete a maturidade jurídica que os projetos de concessão atingiram no Brasil, especialmente no setor rodoviário e que devem atrair novos investimentos.
Analistas da XP avaliaram em relatório que o projeto da Rota dos Cristais é bastante sólido e o risco de demanda é reduzido já que a rodovia tem praças de pedágio implantadas. Além disso, lembram os analistas da XP, o perfil do projeto não tem concentração de investimentos pesados logo nos primeiros anos de concessão e começam a partir do terceiro ano.
A XP avalia que há espaço para retorno positivo ao novo operador e destaca um perfil de fluxo de caixa menos pressionado devido ao menor consumo de recursos nos primeiros anos da concessão.