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Saúde no Brasil: os desafios e a urgência de uma nova abordagem

Evento organizado pelas Comissões de Saúde e Legal abordou a integralidade do cuidado e as desigualdades no sistema de saúde do país

Em um evento híbrido promovido pela Câmara de Comércio e Indústria França-Brasil (CCIFB-SP) em 8 de maio, a saúde pública brasileira foi o tema central da reflexão da especialista Rosa Amélia Andrade Dantas, presidente da Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícia Médica (ABMLPM). A moderação ficou a cargo das vice-líderes da Comissão de Saúde da CCIFB-SP, Tatiana Porto e Valéria Calente, com a participação de Philippe Boutaud-Sanz, líder da Comissão Legal.

Rosa iniciou sua fala com uma reflexão: “quando discutimos saúde, estamos falando apenas de médicos e hospitais, ou deveríamos pensar em tudo o que afeta a vida das pessoas? A saúde vai muito além de um consultório ou de um hospital.” Segundo ela, é necessário repensar o papel de todos, não apenas dos técnicos ou gestores, mas de toda a sociedade, em um debate que envolve setores como a economia, a educação e até a indústria farmacêutica. “A saúde de um país não é responsabilidade de uma única área, mas de um esforço coletivo”, ressaltou.

A especialista também abordou a complexidade do sistema de saúde, acrescentando que ele é uma das áreas mais amplas e diversas que se pode imaginar, abrangendo aspectos físicos, emocionais, mentais e sociais. Ela reconheceu os avanços conquistados pela Constituição de 1988, como a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), mas sem deixar de apontar que ainda estamos longe de cumprir o que foi prometido, especialmente por conta da discrepância entre o papel do SUS e a realidade enfrentada pela população.

A disparidade no financiamento da saúde foi outro ponto tratado por ela. Mais de 70% da população depende do SUS, enquanto o maior investimento ainda se direciona ao setor privado. “O SUS se tornou um sistema usado por quem não pode pagar, enquanto quem tem poder, usa o privado”, ela declarou, revelando a situação que compromete a equidade do sistema e reforça as desigualdades.

E o que dizer sobre o modelo curativo que predomina no Brasil? Para Rosa, ele é falho e custa caro, não apenas financeiramente, mas socialmente. “Nosso maior investimento, até no setor privado, ainda é na doença”, afirmou, questionando se, ao tratar a saúde apenas como resposta a uma enfermidade, não estaríamos perdendo de vista a verdadeira prevenção. Para ela, o caminho deve ser o cuidado integral, envolvendo corpo, mente e espírito, sem esquecer que o ser humano é muito mais que um conjunto de sintomas a serem curados.

Outro ponto crítico da palestrante foi a relação entre saúde e rotina profissional. Com a sobrecarga e as condições de trabalho muitas vezes desumanas, Rosa alertou para o agravamento dos problemas de saúde mental no país, ressaltando que o principal motivo para afastamento tem sido a saúde mental.

Ela também destacou o hábito da sociedade em buscar soluções rápidas e superficiais. “Por que insistimos em resolver com um ibuprofeno o que é uma dor que vai muito além da medicação?”, questionou. Para ela, a busca incessante por soluções imediatas sem olhar para a raiz do problema impede que mudanças reais aconteçam no modelo de saúde pública.

No encerramento, Rosa enfatizou que a saúde precisa ser tratada de forma integral, considerando as dimensões físicas, emocionais e sociais dos indivíduos. “A construção de políticas públicas eficazes passa, necessariamente, por uma transformação nas prioridades da sociedade – e isso vai muito além da simples oferta de atendimento médico”, finalizou.

 

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