São Paulo

CCIFB promove 2º Fórum de Bioeconomia e Sustentabilidade

 

Realizado no Aya Hub, Cidade Matarazzo (SP), evento proporcionou uma abordagem diversificada e aprofundada de diferentes temas da agenda ESG

 

O 2º Fórum de Bioeconomia e Sustentabilidade, realizado pela Câmara de Comércio França-Brasil (CCIFB), no último dia 31 de agosto, proporcionou aos participantes, reunidos no Aya Hub, na Cidade Matarazzo, em São Paulo, uma pauta diversificada e aprofundada de discussões envolvendo mudanças climáticas, agenda ESG e transição energética, entre outros temas decisivos para o futuro do planeta.

Os participantes foram recebidos por Fernando Tabet, do escritório Tabet Advogados, especializado em Direito Ambiental. Padrinho da bandeira de sustentabilidade e líder da Comissão de Bioeconomia da Câmara Francesa, Tabet chamou a atenção para a tríplice emergência global, nome dado pela ONU para o conjunto de crises ambientais que terão de ser enfrentadas até o fim desta década. Tabet destacou o foco dado em 2023, como parte desses desafios, ao combate à poluição plástica.

Combatendo o greenwashing

Iniciando a jornada de discussões, Juliana Lopes, diretora de Natureza e Sociedade do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), entidade que representa o setor empresarial brasileiro na busca pelo desenvolvimento sustentável, apresentou um histórico da evolução dos acordos globais que envolvem a Agenda ESG. Ela também destacou a necessidade de se combater o greenwashing, termo que significa maquiar, de forma enganosa, ações de sustentabilidade com o objetivo de angariar ganhos de imagem, principalmente.

“A regra de ouro no combate ao greenwashing é lembrar que a ação vem antes da comunicação. É muito importante verificar se a empresa tem de fato ações concretas antes de planejar qualquer comunicação”, disse Juliana Lopes.

‘Agro é biotech’

Moderadora do primeiro painel de discussões, Marina Bragante, diretora de Políticas Públicas na AYA Earth Partners, descreveu as atividades da instituição, o maior ecossistema de negócios para acelerar a economia de baixo carbono do país. “A Aya surgiu da ideia de como a sociedade civil poderia ajudar a acelerar a transição para uma economia carbono zero, olhando pra iniciativa privada”, explicou.

A diretora acrescentou que a Aya pode auxiliar na transformação das empresas e de suas cadeias, “trazendo junto organizações sociais e povos originários, que agregam outras perspectivas para pensar essa nova forma de agir”. A Aya colocou à disposição do evento seu espaço, cuja arquitetura e decoração combinaram com os temas discutidos durante a jornada.

Abrindo o primeiro painel com o tema ‘Economia Verde: a nova fronteira para o Agro Sustentável’, Paula Packer, chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, lembrou que, embora o desmatamento seja o “calcanhar de aquiles” do agronegócio, há muitas pesquisas em desenvolvimento na instituição com o objetivo de se obter uma produção sustentável de alimentos, estimulando a economia verde.

“Agro é ambiental, agro é biotech”, destacou. Ela demonstrou preocupação com a necessidade de se ampliar em 50% a produção mundial de alimentos até 2050, de forma a atender um crescimento populacional global de 2 bilhões de pessoas até lá.

Dando sequência à discussão, Juan Acosta, diretor Jurídico da SoluBio, descreveu o panorama para a utilização de bioinsumos – fertilizantes e defensivos biológicos – no Brasil, em substituição a produtos congêneres químicos. A SoluBio, segundo o executivo, ajuda o agricultor ou silvicultor a produzir os bioinsumos dentro de suas fazendas.

Acosta informou que há dois projetos de lei na Câmara dos Deputados com o objetivo de regulamentar a produção do bioinsumo pelo produtor rural. “Hoje os dez maiores grupos agrícolas do país produzem o seu próprio insumo, com reduções de custos de 30% a 70%”, disse.

Degradação ambiental e doenças

O doutor Antonio Santos, head global de Medical Affairs Rare Hematology da Sanofi, destacou, em sua palestra, a interrelação entre a degradação ambiental com o surgimento de patologias. “O que a gente viu recentemente na pandemia de Covid, primeiro, não é raro. Segundo, não é recente. E, terceiro, vai acontecer novamente”, alertou.

Santos explicou que a degradação do meio ambiente e a mudança climática levam a uma perda de biodiversidade, causando mudanças ecológicas, o que, por sua vez, causa a um aumento das interações entre animais e possíveis vetores de doenças. O executivo destacou, também, a rapidez com que a pandemia foi enfrentada ao redor do planeta pelas autoridades e pela comunidade científica.

O primeiro painel se encerrou com a palestra de Damien Lamquet, diretor-geral da Greentech, que falou sobre o tema “Do campo à gondola: estruturação de valor do Juá para a cadeia de cosméticos”.

Lamquet descreveu, em sua palestra, a experiência e os desafios enfrentados na formação de uma cadeia no Brasil que permitiu a exploração do juá, árvore típica da caatinga, para o fornecimento de insumos à indústria de cosméticos. A empresa pesquisou e descobriu um ingrediente bioativo na casca do juá que atua contra a caspa.

Gerenciamento de resíduos

Moderador do segundo painel, Ricardo Novaes Serra, diretor de Energia e Cidades Sustentáveis na Egis, destacou a profundidade e a variedade dos temas que compuseram a grade do evento. Nesta segunda parte do evento, dedicada à discussão da sustentabilidade ambiental na indústria, construção civil e geração de energia, Natalie Figueiredo, diretora de Operações Industriais da Veolia Serviços Ambientais, abordou a atuação da empresa no gerenciamento de diferentes tipos de resíduos industriais – as sobras de produção, que exigem um processo específico para descarte e que podem ser vetores de degradação ambiental.

“Seria muito fácil a gente juntar tudo e mandar para o aterro sanitário, mas é exatamente contra isso que a gente atua”, disse Natalie. Presente no Brasil há mais de 20 anos, a Veolia reúne um conjunto diversificado de ações na gestão de resíduos dos clientes, algumas das quais foram apresentadas pela diretora da empresa em sua palestra.

Lucas Rodriguez, diretor de Transição Energética LATAM da Air Liquide, tratou das perspectivas em relação ao hidrogênio, que figura como principal ativo na esperada transição energética. “Hidrogênio para nós não é algo novo. Trabalhamos com o hidrogênio há quase sessenta anos”, disse ele.

Mais de mil funcionários do grupo se envolvem com o hidrogênio, que é transportado por uma rede de mais de 2 mil quilômetros desenvolvida pela companhia. Rodriguez afirmou que a expectativa é de que ocorram, até o fim do ano, definições regulatórias importantes para o hidrogênio, que permitirão às empresas definirem suas estratégias de investimentos.

Construção mais leve

Fabricio Moreira, vice-presidente de Gestão Industrial LATAM da Saint-Gobain, destacou em sua palestra como o grupo está contribuindo para uma construção leve e sustentável. Moreira apresentou diversas soluções desenvolvidas pela Saint-Gobain com esse objetivo – que se ajustam à estratégia da companhia de buscar a neutralidade na emissão de carbono até 2050. “As nossas soluções buscam proporcionar um impacto positivo para o planeta, de forma economicamente viável para as pessoas”, disse.

Valcléia Solidade, superintendente de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), trouxe para debate os desafios enfrentados pelas comunidades da Amazônia. Segundo Valcléia, a FAS trabalha fortemente a questão da educação para sustentabilidade, com a meta de formar as pessoas das comunidades “pensando na bioeconomia da Amazônia, de forma integrada à questão dos objetivos do desenvolvimento sustentável”.

Entre os desafios encontrados para que as comunidades amazônicas se integrem a um modelo de desenvolvimento econômico sustentável tendo a bioeconomia como objetivo, ela destacou o isolamento dos povoados, acessíveis somente por rios, em deslocamentos que levam dias.

A engenheira ambiental, bióloga e professora Juliana Alencar, da Phytorestore, discorreu sobre o tema “Jardins filtrantes: uso de soluções baseadas na natureza para o tratamento de efluentes”, destacando a sua experiência com a utilização de alternativas naturais para o tratamento de efluentes e recuperação de mananciais. Juliana lembrou que a questão do tratamento de efluentes apresenta níveis de estresse agudo em diferentes regiões do país e que as estações de tratamento convencionais trazem como inconvenientes, por exemplo, o excessivo consumo de energia elétrica.

Nesse cenário, os jardins flutuantes se apresentam como alternativas que se valem da própria natureza. “Basicamente é fazer com que as plantas atuem como agentes de remoção de poluentes”, afirmou.

 Água para todos

Detalhando as perspectivas para o reúso de água no Brasil, Marcus Vallero, Sales Manager da Veolia Water Technologies & Solutions, apresentou aos participantes do fórum um quadro de como essa alternativa se desenvolve ao longo do planeta, além de destacar as suas vantagens.

Entre as alternativas existentes, Vallero destacou que a água de reúso poderia ter uma excelente aplicação nas descargas dos vasos sanitários, que atualmente utilizam água potável para isso.  Ele acrescentou, contudo, que ainda não se tem uma solução para viabilizar esse uso.

O fórum contou com uma participação internacional: Valérie Amant, diretora de Comunicação da The SeaCleaners, organização que luta contra a poluição marinha provocada pelo plástico, ressaltou a importância da preservação dos oceanos para o futuro do planeta. Ela lembrou que, assim como a floresta amazônica, os oceanos são “pulmões do mundo”. Valérie destacou o “vício em plástico” da humanidade, lembrando que “todos os anos produzimos 400 milhões de toneladas métricas de plástico, o que é absolutamente excepcional”.

Ela também ressaltou que mais da metade de todos os plásticos foram fabricados a partir do ano 2000. Dessa produção, entre 9 milhões e 12 milhões de toneladas são despejadas anualmente nos oceanos.

Encerrando a manhã de discussões, a diretora-executiva da CCIFB, Corinne Fontenelle, agradeceu aos participantes, aos palestrantes e às empresas apoiadoras do evento, destacando a profundidade com que os diferentes temas da Agenda ESG foram tratados.

“Um dos objetivos era mesmo mostrar o compromisso de nossas empresas, das empresas francesas associadas da Câmara, com a temática da sustentabilidade, e ajudar todas as demais”, disse ela.

 

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