São Paulo Entrevistas

"A CCIFB-SP pode ser catalisadora da liderança empresarial na agenda climática"

Rafael Segrera, presidente da Schneider e VP ESG da CCIFB-SP, aborda o papel das empresas na agenda sustentável

Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, a CCIFB-SP destaca a importância do protagonismo empresarial na agenda climática no Brasil. Conversamos com o VP de ESG & COP30 da CCIFB e presidente da Schneider Electric para a América do Sul, Rafael Segrera, que lidera uma das empresas mais sustentáveis do mundo, segundo rankings internacionais. Ele ressaltou a necessidade de transformar compromissos em ações concretas e destacou o papel da CCIFB como ponte entre a experiência francesa em sustentabilidade e os desafios do contexto brasileiro, especialmente em um ano decisivo para as negociações globais sobre o clima.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

 

1. Como vice-presidente de ESG & COP30 da CCIFB-SP, qual será seu foco na mobilização das empresas associadas em torno da agenda sustentável? A Câmara pretende articular um posicionamento conjunto para a COP30? Se sim, como esse posicionamento deve ser construído?

O foco principal será mobilizar as empresas associadas para fortalecer o protagonismo empresarial na agenda de sustentabilidade, transformando compromissos em ações concretas que possam ser apresentadas na COP30.

A Câmara tem uma função estratégica nesse processo e pretende, sim, articular um posicionamento conjunto para a Conferência de forma a reforçar o engajamento da comunidade empresarial franco-brasileira. Esse posicionamento deve ser construído de maneira colaborativa, transparente e baseada em evidências.

Uma opção interessante é a criação de grupos de trabalho temáticos que reúnam representantes das empresas associadas e especialistas em clima, energia, biodiversidade e finanças sustentáveis. A partir desses fóruns, poderemos identificar boas práticas já implementadas, lacunas de atuação, barreiras regulatórias e oportunidades para acelerar a transição para uma economia de baixo carbono. O documento final deverá estar relacionado diretamente ao compromisso do setor privado com as metas do Acordo de Paris e a contribuição concreta das empresas associadas à CCIFB-SP para a agenda climática brasileira.

 

2. A França tem sido referência em políticas climáticas e ambientais. Como essa experiência pode ser traduzida ou adaptada para a realidade brasileira pelas empresas que fazem parte da Câmara? Existe um papel de ponte que a CCIFB-SP pode desempenhar entre essas duas culturas empresariais?

A França é referência global em políticas climáticas, com iniciativas robustas como a Lei de Transição Energética, o Pacto Ecológico Europeu e a liderança na implementação de relatórios climáticos obrigatórios, como a Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD). Essas experiências podem ser traduzidas para a realidade brasileira por meio da troca de conhecimento técnico, adaptação de práticas regulatórias e impulsionamento de inovações voltadas à eficiência energética, descarbonização e economia circular.

A CCIFB-SP se mostra essencial como ponte entre essas culturas empresariais, estimulando a transferência de know-how e a aproximação entre organizações francesas que já aplicam padrões ESG avançados e empresas brasileiras em processo de amadurecimento nessa agenda. Além disso, pode fomentar o diálogo institucional com autoridades públicas, a fim de contribuir para o aprimoramento de políticas públicas e incentivos à sustentabilidade no Brasil, que tem todos os elementos para se tornar uma potência nos temas relacionados à agenda climática.

 

3. Quais foram os maiores desafios enfrentados pela Schneider Electric para integrar sustentabilidade ao centro da estratégia de negócios e como a empresa os superou?

A Schneider Electric enfrentou desafios como o alinhamento interno de todas as áreas e unidades de negócios com as metas de sustentabilidade e a necessidade de mensurar com precisão o impacto ambiental de suas operações e produtos, bem como a integração da sustentabilidade aos processos decisórios financeiros.

Superamos essas questões por meio de uma governança robusta com metas claras e ambiciosas atreladas diretamente à remuneração variável da liderança. Temos o índice Schneider Sustainability Impact (SSI) - conjunto de indicadores que norteiam a atuação global da companhia. Reportamos trimestralmente os resultados em relação a essas metas, assim como fazemos com os resultados financeiros. Em 2025 completamos um ciclo do SSI e em breve vamos anunciar um novo conjunto de indicadores. Investimos fortemente em inovação e digitalização para oferecer soluções que aceleram a descarbonização de nossos clientes e, por fim, estabelecemos parcerias estratégicas para escalar impactos positivos com stakeholders. O comprometimento da alta liderança foi indispensável para disseminar a cultura ESG em toda a organização.

 

4. Com base na sua experiência na Schneider Electric, que foi reconhecida globalmente como empresa líder em sustentabilidade, que aprendizados ou práticas o senhor acredita que podem ser disseminados entre as associadas da Câmara para acelerar a agenda ESG no setor empresarial?

Há vários aprendizados que podem ser compartilhados. Primeiramente, a integração da sustentabilidade ao core business, deixando de tratá-la como um aspecto periférico e transformando-a em vetor transversal de inovação e competitividade. A medição e a transparência são igualmente fundamentais: é preciso estabelecer indicadores claros, reportar avanços e comunicar com responsabilidade.

Outro aprendizado é a importância das parcerias e do ecossistema. Nenhuma empresa avança sozinha. Parcerias público-privadas, participação em iniciativas setoriais e colaboração com startups são necessárias para acelerar a transformação sustentável.

A digitalização de processos industriais, por sua vez, é um grande pilar para ganhos de eficiência energética, redução de emissões e gestão inteligente de recursos - fatores que todas as associadas da Câmara podem considerar em suas estratégias, com tecnologias que já estão disponíveis hoje e que têm o retorno rápido do investimento comprovado.

 

5. O senhor acredita que o setor privado brasileiro está preparado para contribuir de forma efetiva com os compromissos da COP30? Que papel a liderança empresarial deve exercer nesse cenário?

O setor privado brasileiro está cada vez mais consciente da urgência das ações de combate às mudanças do clima e do seu papel na transformação sustentável, mas ainda há desafios substanciais, como a necessidade de maior alinhamento com padrões internacionais, ampliação da transparência na divulgação de informações que envolvam o ESG e investimentos mais robustos em tecnologias limpas.

A liderança empresarial deve assumir um papel protagonista nesse cenário, promovendo a inovação, a ambição e a colaboração. As empresas precisam ir além da conformidade regulatória e liderar pelo exemplo, demonstrando que a sustentabilidade é uma peça estratégica e econômica. A Schneider Electric, por exemplo, multiplicou seus resultados ao longo das últimas duas décadas (entre 2003 e 2023): quadruplicou a receita e multiplicou por 12 o valor de mercado e por 9 o lucro.

A realização da COP-30 no Brasil é bastante relevante, uma vez que o país possui um enorme potencial em energias renováveis e uma posição estratégica na agenda climática global. A CCIFB-SP, a propósito, com sua rede de empresas comprometida e multicultural, pode ser uma catalisadora dessa liderança, articulando soluções e posicionamentos que impulsionam a agenda climática e o desenvolvimento sustentável no Brasil.

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