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ENGIE Day celebra 10ª edição com debates sobre regulação, investimentos e transição energética justa
O ENGIE Day integra o calendário de iniciativas que fortalecem o ecossistema empresarial franco-brasileiro em torno da sustentabilidade e da inovação
Realizado nesta segunda-feira (23), no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, o evento teve em sua 10ª edição o tema “Desafios da Transição Energética para o Setor de Energia”, e reuniu clientes, financiadores, fornecedores, think tanks, reguladores e colaboradores em um debate aprofundado sobre os desafios, oportunidades, conjuntura e perspectivas do setor.
O evento foi aberto por Eduardo Sattamini, Country Manager da ENGIE no Brasil e Diretor-Presidente da ENGIE Brasil Energia, e conduzido por Gil Maranhão, diretor de Comunicação, Responsabilidade Social Corporativa e Transição Energética da ENGIE Brasil.
Sattamini lembrou que o Brasil foi o primeiro grande mercado do grupo ENGIE a operar com 100% de energia renovável e destacou que o país tem papel estratégico no alcance das metas globais de descarbonização da companhia. Ao abordar os desafios para a expansão das renováveis, o executivo defendeu o fim dos subsídios: “A transição energética não pode ser apenas ambientalmente correta — ela precisa ser economicamente sustentável. Subsídios que já não se justificam tornam a energia mais cara para todos e comprometem a competitividade do Brasil”, afirmou.
Gil Maranhão destacou que a ENGIE já trilha o caminho da transição energética faz muito tempo: “A hidrelétrica de Jirau foi a primeira grande usina do mundo a receber certificação global de sustentabilidade no padrão Gold Standard, com endosso de toda a indústria mundial da hidreletricidade, incluindo investidores, fornecedores, governos, financiadores e ONGs. Mas a melhor notícia é que Jirau tem os mesmos 33 a 35 programas sociais e ambientais que todas as outras hidrelétricas construídas no Brasil nos últimos anos. Além disso, tivemos mais uma vez a confirmação da ENGIE Brasil Energia no índice de sustentabilidade da B3, que reúne as empresas com os mais altos padrões de governança e responsabilidade socioambiental.”
O painel de abertura, sobre o ambiente de negócios, contou com moderação de Gustavo Labanca, Managing Director para Power Networks da ENGIE Brasil, e teve a participação de Joísa Dutra, diretora do Centro de Regulação e Infraestrutura da FGV e ex-diretora da ANEEL, e de Jerson Kelman, professor da COPPE/UFRJ e ex-Presidente das agências ANA e ANEEL.
Joísa alertou para a necessidade de pensar a transição energética de forma sistêmica, indo além da expansão das fontes renováveis. Segundo ela, garantir segurança no suprimento exige uma visão integrada que inclua redes, armazenamento e modicidade tarifária. “Não basta investir em solar e eólica. É preciso integrar as fontes, e isso passa por redes de transmissão e armazenamento. A sociedade exige segurança no suprimento, com tarifas que caibam no bolso do consumidor”, afirmou.
Jerson Kelman criticou os incentivos à construção de nova capacidade de geração em cenário de baixa expansão da demanda. “Estamos incentivando a construção de novos ativos sem que haja crescimento da demanda. Isso não é incentivo à geração, mas sim à migração de consumidores. O resultado é um sistema mais caro — e, no fim, quem paga a conta é o consumidor”, disse.
Labanca destacou os gargalos que ainda dificultam a ampliação da infraestrutura de transmissão no Brasil, com ênfase nas barreiras do licenciamento ambiental. “O licenciamento ambiental tem sido um dos principais gargalos, mas já vemos ações do planejador para destravar os projetos e permitir que a infraestrutura avance no ritmo que o país precisa”, afirmou.
O segundo painel trouxe a perspectiva da cadeia produtiva e foi moderado por Gabriel Mann, diretor de Estratégia e Regulação da ENGIE Brasil Energia. Participaram da conversa Fábio Yanaguita, diretor de Energia Latam da Scala Data Centers, e Vittorio Perona, sócio do Banco BTG Pactual.
Fábio destacou que o Brasil tem se mostrado um destino competitivo para a instalação de data centers em razão do diferencial ambiental, mas alertou para a complexidade tributária como um obstáculo importante para a atração de investimentos. “O movimento que fizemos de mostrar o Brasil para o mercado internacional foi super importante. Nós temos um diferencial ambiental, mas ainda temos um desafio tributário. Data center é uma empresa de infraestrutura, e não de tecnologia”, afirmou.
Vittorio apontou que o Brasil se encontra em posição vantajosa quando comparado a países como os Estados Unidos, tanto pela disponibilidade de fontes renováveis quanto pela infraestrutura de conectividade internacional. “Um estudo recente mostrou uma demanda adicional de 134 gigawatts de energia por conta de data centers nos EUA. Mas os Estados Unidos não conseguem organizar isso. O Brasil está muito mais bem posicionado neste sentido”, avaliou.
Gabriel Mann questionou os participantes sobre a relevância da agenda ESG no atual cenário global, especialmente diante do crescimento acelerado da inteligência artificial, e afirmou que “a ENGIE tem como uma prioridade os pilares ambiental, social e econômico em seus projetos e na operação no Brasil”.
O terceiro e último painel do ENGIE Day 2025 tratou dos desafios da transição energética sob a ótica da agenda ESG. A conversa foi mediada por Flávia Teixeira, gerente de Meio Ambiente, Responsabilidade Social Corporativa e Transição Energética da ENGIE Brasil, e teve a participação de Carla Primavera, superintendente de Transição Energética e Clima do BNDES, e Rodolpho Zahluth Bastos, secretário adjunto de Gestão e Regularidade Ambiental do Pará.
Carla destacou que os cortes de geração enfrentados pelo setor exigem uma abordagem mais estratégica e transparente, com metodologias claras e articulação entre os agentes. “O desafio atual do corte de geração a gente não vai ser capaz de conter. Vamos nos dedicar ao debate e à metodologia para endereçar os cortes de geração. Dar conta dos efeitos financeiros não é algo que o BNDES possa fazer sozinho, mas os projetos serão tratados de forma bilateral e oferecemos resiliência, como fizemos na pandemia. Essa está ligada aos investimentos do futuro”, afirmou.
Rodolpho enfatizou que, à medida que a COP30 se aproxima, os debates ligados à transição energética devem ganhar ainda mais relevância, especialmente na região amazônica. “A transição energética é um ponto principal, mas temos também temas como a triplicação no fornecimento de energia renovável, eficiência energética e o acesso universal e democrático à energia no território amazônico”, disse
Flávia Teixeira defendeu uma leitura mais estratégica da agenda ESG. Ela propôs que os critérios ambientais, sociais e de governança sejam vistos como parte central da gestão de eficiência e como elementos fundamentais para garantir segurança jurídica e atratividade de investimentos. “ESG é muito mais do que ter um selo verde. A gente está falando de gestão de eficiência. São agendas fundamentais e estruturantes para os nossos negócios”, afirmou.
O encerramento do ENGIE Day 2025 ficou por conta de Fred Gelli, cofundador e CEO da Tátil Design, que provocou reflexões sobre o papel das empresas no redesenho de futuros sustentáveis. Ele criticou a lógica de “decisões baseadas apenas no curto prazo” e defendeu uma reconexão com os ciclos naturais como condição para que negócios prosperem com legitimidade.