São Paulo Entrevistas
Entrevista ESG: “O Coletivo Jardins demonstra que a transformação urbana sustentável nasce do envolvimento ativo da comunidade local, e não apenas de ações públicas.”

Elisabeth Vinson, criadora da Associação Coletivo Jardins, fala sobre a atuação do movimento e os desafios de lutas por um espaço urbano mais verde
Engajada em causas sociais e comunitárias, Elisabeth Vinson atua há muitos anos em iniciativas voltadas ao apoio de crianças, adolescentes e pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica. Em 2017, passou a colaborar com o Programa Vizinhança Solidária, da Polícia Militar do Estado de São Paulo, fortalecendo os laços entre moradores e promovendo a melhoria da segurança pública por meio da integração comunitária.
Em 2023, liderou a criação da Associação Coletivo Jardins, movimento que rapidamente mobilizou mais de 6.200 assinaturas em apenas cinco dias. A iniciativa visa à proteção do patrimônio histórico e ambiental dos bairros Jardins, em São Paulo, buscando preservar a identidade e o meio ambiente da região. Com uma trajetória marcada pelo engajamento cívico, Elisabeth tem se dedicado à valorização da participação cidadã como ferramenta de transformação urbana e social.
1. Como nasceu o Coletivo Jardins e como ele tem contribuído para transformar os bairros dos Jardins em referência de sustentabilidade urbana em São Paulo?
O Coletivo Jardins nasceu em 2023, como uma iniciativa cidadã apartidária, mobilizada em defesa do valor urbanístico, ambiental e histórico dos bairros-jardins de São Paulo — Jardim América, Jardim Europa, Jardim Paulistano e Jardim Paulista. Esses bairros, tombados pelo patrimônio histórico, formam um raro exemplo de bairro-jardim em pleno coração de São Paulo, com características únicas de ambiência, vegetação abundante e integração com o espaço público.
Diante de ameaças crescentes à integridade desses bairros, como a pressão pela flexibilização das regras do tombamento, existente há 40 anos, que teria como conseqüência perda considerável de árvores para dar espaço a construção, alguns moradores, especialistas e lideranças locais se uniram para articular ações de preservação, inovação e engajamento comunitário.
Desde então, o Coletivo tem atuado como uma plataforma de articulação, conscientização e propostas concretas voltadas à valorização do patrimônio ambiental e paisagístico local. Ao promover projetos voltados à arborização urbana, à recuperação de áreas verdes e à proteção do traçado urbanístico original, o Coletivo vem contribuindo para consolidar os Jardins como referência de sustentabilidade urbana, qualidade de vida e resiliência ecológica em meio à maior metrópole do país.
Por meio do diálogo com a comunidade, com o poder público, e com a iniciativa privada, o Coletivo visa transformar os Jardins em um laboratório vivo de soluções integradas para uma cidade mais verde, segura e resiliente, em tempos de mudança climática.
2. Quais iniciativas do coletivo se destacam nas áreas de meio ambiente e conservação do patrimônio local?
Na área ambiental, destaca-se o projeto de Inventário, Avaliação e Reforço da Arborização Urbana na Região dos Jardins, que visa mapear e cuidar das mais de 11 mil árvores da região, fortalecendo a biodiversidade urbana e reduzindo ilhas de calor.
O projeto fortalece o papel dos Jardins como pulmão verde da cidade e elo essencial de um corredor ecológico porta sementes, que se estende do Instituto Butantã ao Parque do Ibirapuera.
Na preservação do patrimônio, o Coletivo Jardins lidera ações para garantir a manutenção do tombamento ambiental e urbanístico dos bairros-jardins, reconhecidos por sua concepção inovadora inspirada no movimento garden city. Promove ainda a avaliação e manutenção das árvores das praças, canteiros e calçadas da região, integrando sustentabilidade e identidade local.
3. De que forma o engajamento da sociedade civil, por meio de associações como o Coletivo Jardins, pode inspirar o setor privado na adoção de práticas ESG?
O Coletivo Jardins demonstra que a transformação urbana sustentável nasce do envolvimento ativo da comunidade local, e não apenas de ações públicas. Esse protagonismo da sociedade civil serve como referência para o setor privado, ao mostrar que práticas ESG eficazes não se limitam ao âmbito empresarial, mas devem dialogar com o território, com as pessoas e com o patrimônio coletivo.
Empresas que se associam a projetos como os do Coletivo Jardins têm a oportunidade de gerar valor compartilhado, contribuindo para cidades mais equilibradas, saudáveis e humanas. Ao investir em ações de impacto positivo e alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o setor privado reforça sua legitimidade e seu compromisso com o futuro das cidades.
4. Há oportunidades para parcerias com empresas francesas que atuam no Brasil, especialmente em temas como infraestrutura verde ou gestão de resíduos urbanos?
Sem dúvida. A França tem tradição e excelência em soluções urbanas sustentáveis, e há grande sinergia entre os desafios enfrentados pelos bairros Jardins e as expertises das empresas francesas atuantes no Brasil.
Existem oportunidades concretas para parcerias na área de implementação de infraestrutura verde, requalificação do verde de espaços públicos. O Coletivo jardins está aberto ao diálogo com empresas interessadas em co-desenvolver projetos-piloto com potencial de replicação em outras regiões da cidade — sempre respeitando o valor histórico e ambiental do território.