São Paulo Entrevistas
Entrevistas ESG: "A COP30 é uma chance de mostrar que o Brasil pode ser uma potência verde".

Jean-Pierre Cantaux fala sobre como fortalecer o protagonismo do país na agenda climática global
Vice-líder da Comissão de Bioeconomia da Câmara de Comércio França-Brasil, Jean-Pierre Cantaux é um dos organizadores do 4º Fórum de Bioeconomia e Sustentabilidade, em um momento estratégico para a agenda climática no Brasil. À frente da Canopée, que desenvolve projetos socioambientais, inventários de gases de efeito estufa e comercialização de créditos de carbono certificados, ele tem se dedicado à promoção de soluções sustentáveis e ao fortalecimento da economia verde no país.
Engenheiro civil com formação em finanças e administração, Cantaux é francês e vive no Brasil desde 1990, tendo uma sólida trajetória como empreendedor em setores como serviços, saúde, tecnologia e eventos. Nesta entrevista, ele fala sobre o potencial do Brasil como potência verde, o papel do setor privado na transição ecológica e os caminhos para o país ganhar protagonismo na agenda global de sustentabilidade.
1. Quais são suas expectativas para a COP30? Como esse evento pode envolver mais o setor privado na transição ecológica?
A COP30 deve reforçar a importância dos acordos internacionais, como o Acordo de Paris e a Rio+20, e consolidar o Brasil como liderança nas negociações climáticas. Realizada no coração da Amazônia, a conferência carrega um peso simbólico importante.
Entre os temas centrais, estarão a redução de emissões de GEE, o financiamento climático, as tecnologias de energia renovável e soluções de baixo carbono, a adaptação às mudanças climáticas, a preservação das florestas e da biodiversidade e a justiça climática e os impactos sociais.
Vivemos um momento decisivo para mostrar que o Brasil quer e pode ser uma potência verde. O Decreto 12.044, conhecido como Lei da Bioeconomia, aponta uma estratégia clara nesse caminho. Espero ver avanços concretos em temas como preservação, emissões e financiamento, e que sejam tomadas decisões claras a serem implementadas a curto prazo, estimulando a participação do setor privado, que é imprescindível para a obtenção de resultados reais.
2. Qual a importância do 4º Fórum de Bioeconomia e Sustentabilidade na preparação para a COP30? Como o evento pode fortalecer o papel das empresas nessa agenda?
Este ano temos diversos eventos voltados à COP30. Muitos deles são side events, justamente porque nem todos conseguirão estar fisicamente em Belém, por questões logísticas. O 4º Fórum de Bioeconomia e Sustentabilidade se encaixa nessa agenda mais ampla. Ele aborda temas que estarão em destaque na COP30, como bioeconomia, financiamento, inovação tecnológica e transição climática.
O grande objetivo é ajudar as empresas a entenderem a importância de adotar práticas mais sustentáveis. E não só isso: o Fórum também apresenta experiências e projetos que podem inspirar e orientar uma mudança real de postura, alinhada às atividades de cada negócio.
3. Como as empresas da CCIFB podem contribuir para avançar nas metas de sustentabilidade? Que desafios você enxerga no meio corporativo?
Muitas empresas associadas à CCIFB já estão bem avançadas nessa agenda, em parte pelos laços com a Europa, onde as exigências ambientais e sociais são bastante presentes. A vontade de fazer é clara, e a participação ativa dos membros nas comissões da Câmara mostra isso.
O desafio maior é a insegurança. Estamos “montando o avião enquanto voamos”, o que dificulta as decisões mais estruturais. Falta segurança jurídica e financeira para que as empresas se sintam confortáveis em apostar em ações de longo prazo.
4. Na sua visão, por que a bioeconomia pode ser uma chave para o desenvolvimento sustentável no Brasil? O que falta para destravarmos esse potencial?
O Brasil é um território imenso, com muitos “Brasis” dentro dele. A bioeconomia tem tudo para ser uma solução real de desenvolvimento nas microrregiões, gerando riqueza local e reduzindo problemas logísticos.
Temos uma das maiores biodiversidades do mundo e já somos um dos poucos, talvez o único, país com uma legislação específica sobre o tema. A Lei da Bioeconomia (Decreto 12.044) é uma prova da importância que damos a esse caminho.
O potencial é enorme, mas, mais uma vez, tudo vai depender de segurança. Sem mecanismos jurídicos e financeiros estáveis, as empresas não conseguem investir com tranquilidade em projetos de longo prazo. Com o ambiente certo, a bioeconomia pode movimentar bilhões e incluir populações historicamente desfavorecidas no desenvolvimento sustentável.