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O desafio de colocar a diversidade em prática

Evento da Comissão Mundo do Trabalho da CCIFB-SP evidencia que a inclusão só se realiza com ações efetivas dentro das empresas

A diversidade atravessa não apenas as empresas, mas a sociedade como um todo. Foi justamente essa a tônica do encontro “Diversidade além do preconceito”, realizado no dia 21 de agosto pela Comissão Mundo do Trabalho da CCIFB-SP. O evento contou com a palestra de Ricardo Mota, diretor da Rede Américas, sob moderação de Sara Behmer e participação de Raquel Busnello, respectivamente vice-líder e líder da Comissão.

Logo no início, Mota deixou claro seu ponto de partida: “Diversidade não é sobre um público específico, é sobre todos os seres humanos”, disse. Para ele, a compreensão do tema exige três elementos básicos: conhecimento, atitude e ação, capazes de sustentar mudanças reais.

Com base em sua experiência no Fórum de Empresas e Direitos Humanos e na gestão da Rede Américas, que reúne 57 hospitais e mais de 34 mil colaboradores, Mota destacou que diversidade só faz sentido quando traduzida em práticas concretas. Isso passa tanto pela cultura corporativa quanto por medidas cotidianas, como acessibilidade e respeito às diferenças.

Um dos momentos mais marcantes foi quando Mota lembrou conquistas recentes que, à primeira vista, parecem distantes. Até 1932, mulheres não podiam votar no Brasil, e até os anos 1970 precisavam de autorização dos maridos para abrir conta bancária. “São dados que chocam porque parecem distantes, mas não são. É como se estivéssemos falando de ontem”, observou. Segundo ele, a construção social de padrões de gênero e comportamento reforçou desigualdades que ainda ecoam nos dias de hoje. Reconhecer os próprios vieses inconscientes é, em sua visão, o primeiro passo para evitar práticas discriminatórias. “Ninguém nasce preconceituoso, mas todos somos atravessados por crenças que moldam nossas percepções”, afirmou.

Mota também valorizou o papel dos movimentos sociais, fundamentais para dar visibilidade a realidades silenciadas e conquistar avanços em direitos básicos. “Diversidade não é sobre normalidade. Se existe uma normalidade, ela deveria ser a diversidade humana. Ninguém é igual ao outro”, afirmou, defendendo que empresas e pessoas assumam essa visão no dia a dia.

No encerramento de sua fala, reforçou a necessidade de educação, curiosidade e coragem para enfrentar preconceitos. “Nem todos vão mudar, mas cada atitude conta. Se conseguirmos sensibilizar e inspirar pessoas a agir, já teremos dado um passo importante para construir uma sociedade mais justa.”

Na etapa de perguntas, os depoimentos da plateia evidenciaram como a inclusão ainda encontra barreiras no dia a dia das organizações. Ficaram claras as dificuldades de tratar inclusão de forma consistente, sobretudo em ambientes que permanecem resistentes a mudanças culturais mais profundas. Surgiram exemplos de iniciativas corporativas que se limitam a ações superficiais, como contratações apenas para cumprir cotas, sem oferecer condições reais de crescimento, adaptação de infraestrutura ou preparo das equipes. Esse tipo de prática, longe de gerar transformação, muitas vezes reforça exclusões veladas.

Os relatos também mostraram que preconceitos persistem em diferentes frentes, da resistência à presença de mulheres em cargos técnicos e de liderança ao desafio de lidar com diferenças geracionais no trabalho.

Diante desse cenário, Ricardo Mota destacou que a verdadeira inclusão exige mudanças estruturais e comprometimento de longo prazo. “O grande desafio é justamente esse: sair da ideia de que diversidade é tendência e reconhecer que ela é a realidade humana. Cabe às empresas se adaptarem a isso de forma séria e consistente”, concluiu.

 

Confira a gravação na íntegra e algumas fotos do evento:

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