São Paulo Comissões
A revolução agrícola que recupera o solo e aumenta a rentabilidade
Comissões de Bioeconomia e Sustentabilidade e Agronegócio da CCIFB-SP debatem práticas regenerativas, mais lucrativas e sustentáveis
Um futuro em que a agricultura brasileira não só alimenta o mundo, mas também cura o planeta. Essa foi uma das direções apontadas pelo evento "Caminhos para a Agricultura Regenerativa: Inovação e Sustentabilidade no Campo", realizado em 6 de agosto de 2025 pelas Comissões de Bioeconomia e Sustentabilidade e de Agronegócio da Câmara de Comércio França-Brasil de São Paulo.
O encontro reuniu os especialistas Gisele Freitas Vilela, pesquisadora da Embrapa Territorial; Daniela Cristina da Silva, advogada sênior do Castro Barros Advogados; Taisa Costa, Head de Sustentabilidade da Danone Brasil; e Fabrício de Campos, Head of Sustainable Finance and Markets do WWF Brasil, para debater como a agricultura regenerativa pode ser a chave para fortalecer a competitividade, impulsionar a descarbonização e gerar inovações no agronegócio.
Abrindo a conversa, Daniela ressaltou a importância estratégica do tema, conectando-o aos compromissos globais do Brasil. Para a advogada, a agricultura regenerativa é "mais do que uma tendência: é um caminho estratégico para enfrentar a crise climática e proteger a biodiversidade, sem perder de vista a competitividade". Ela também apontou a COP30, que será realizada no Brasil, como uma oportunidade única para o país mostrar ao mundo como seu agronegócio pode ser sustentável, “colaborando para reduzir emissões, recuperar áreas degradadas e gerar inovação”.
Metas e soluções – Ao longo do evento, ficou claro o papel da agricultura regenerativa no cumprimento das metas da COP30. Foram discutidas soluções que equilibram produtividade, conservação ambiental e segurança alimentar, como a integração de lavoura, pecuária e floresta, o uso de bioinsumos e a recuperação de áreas degradadas. Essas práticas não apenas reduzem as emissões, mas também aumentam o sequestro de carbono no solo, diversificando a renda do produtor e otimizando o uso da terra, ressaltou Daniela.
Outro ponto abordado foi o financiamento de iniciativas sustentáveis. Programas como o RenovAgro e o Caminho Verde, por exemplo, oferecem condições de crédito especiais para produtores que adotam técnicas de baixo carbono. Essas políticas são essenciais para viabilizar a transição para modelos mais sustentáveis e para manter pequenos e médios agricultores no campo, alinhando a competitividade do agronegócio brasileiro às exigências do mercado internacional e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
O solo vivo – Em seguida, a pesquisadora Gisele, da Embrapa, aprofundou a discussão sobre os aspectos técnicos da agricultura regenerativa. Ela explicou que a abordagem busca fortalecer o componente biológico do solo, que é a base para sustentar os aspectos químicos e físicos. Segundo ela, a versão brasileira, chamada de “agricultura tropical regenerativa”, se diferencia por adaptar as técnicas ao clima e solos do país, focando em processos associativos das plantas com os micro-organismos do solo, através das raízes, e das plantas entre si.
Para Gisele, o uso de agrominerais silicáticos, abundantes no Brasil, e a produção de microrganismos na própria fazenda ("on-farm") são cruciais para essa adaptação. Ela enfatizou que, com os remineralizadores, é possível acelerar processos que levariam centenas de anos na natureza, rejuvenescendo o solo em poucos anos. A pesquisadora citou que já existem centenas de produtos biológicos e remineralizadores registrados no país, e que a integração entre essas práticas é estratégica para uma agricultura mais produtiva e sustentável. “A agricultura regenerativa deu escala e inovação a práticas da agricultura ecológica e orgânica, com o objetivo de trazer saúde e equilíbrio ao sistema produtivo", concluiu.
Mitigação e adaptação – Fabrício de Campos, da WWF Brasil, ressaltou os três papéis essenciais da agricultura regenerativa diante das crises globais. O mais evidente é a mitigação, pois a prática atua como "um grande promotor de descargas de carbono no solo". No entanto, ele destacou que a adaptação é igualmente vital, pois uma propriedade com design regenerativo se torna mais resiliente a eventos climáticos extremos. Ele também enfatizou o papel da agricultura regenerativa na gestão da crise de biodiversidade, pois a transição de químicos para biológicos é fundamental para reduzir a poluição causada pelos sistemas agrícolas e, consequentemente, diminuir as taxas de extinção.
Reforçando a sustentabilidade como um valor inegociável, Campos defendeu que a agricultura regenerativa precisa ser, obrigatoriamente, livre de desmatamento. Segundo ele, “é inviável falar em agricultura regenerativa se você desmatou uma área para fazer esse tipo de agricultura". Para incentivar e monitorar essa transição, ele citou a importância de mecanismos financeiros. O especialista mencionou, ainda, uma iniciativa que oferece crédito com condições especiais para produtores comprometidos com a agricultura livre de desmatamento e que agora busca estender essa linha para a agricultura regenerativa.
Parcerias de sucesso – A experiência da Danone Brasil foi apresentada por Taisa Costa, que detalhou o projeto Flora, programa da empresa para descarbonizar a cadeia de lácteos através da agricultura regenerativa. Ela explicou que o projeto se baseia em três pilares: regeneração do campo, transformação social do produtor e bem-estar animal. De acordo com ela, em cinco anos o programa já alcançou uma redução de 48% nas emissões de CO2 e 42% nas de metano, enquanto a produtividade das fazendas saltou de uma média de 6 para 24 litros de leite por vaca por dia.
O evento teve, ainda, a participação de Thalita Queiroz, gerente de Relacionamento do Banco do Brasil, que explicou como a parceria com a Danone facilita o acesso a crédito para pequenos produtores. Segundo ela, a iniciativa oferece uma "esteira de crédito diferenciada" com recursos priorizados, tornando-o acessível a produtores que, de outra forma, não conseguiriam financiamento. Ela ressaltou que "o fato de ter o convênio da Danone ali, ele tem um recurso priorizado", o que não só viabiliza investimentos em tecnologia e gestão, mas também "mitiga um pouco o risco do banco" e fortalece a cadeia como um todo.
Confira algumas imagens do evento e a gravação na íntegra.