São Paulo Comissões

Navegando em tempos de incerteza

A “permacrise” e os desafios que ela apresenta para o setor privado foram tema de evento organizado em conjunto pelas Comissões de Gestão de Riscos e Mundo do Trabalho

"Desarmar as armadilhas do mercado brasileiro: Chaves para prosperar em período de permacrise" foi o tema do evento híbrido realizado pelas Comissões de Gestão de Riscos e Mundo do Trabalho da CCIFB-SP no dia 17 de setembro. O debate abordou as complexidades e os desafios do ambiente de negócios no Brasil, além de observações sobre como as empresas podem não apenas sobreviver, mas prosperar em tempos de incerteza econômica e social.

O evento teve como convidados Laurent Serafini, CEO da Velours Internacional; Vincent Parachini, Sócio-Diretor da Halifax Consulting; e Nicolas Touchet, Managing Partner da Telos Transition, que compartilharam suas experiências sobre como aproveitar as oportunidades que surgem nesse contexto desafiador. A moderação foi de Antoine Blavier e Raquel Busnello.

Logo no início os convidados apresentaram o conceito de "permacrise", termo que vem sendo utilizado para descrever o estado de crise contínua em que as empresas e as sociedades se encontram. O conceito ganhou relevância a partir de eventos marcantes, como os ataques de 11 de setembro, a pandemia de COVID-19 e a crise financeira global, que mostraram que as empresas não podem mais depender unicamente do Estado para a gestão de riscos externos.

O cenário atual apresenta incertezas provenientes de diversos fatores, incluindo conflitos geopolíticos como a guerra entre Rússia e Ucrânia e o conflito entre Palestina e Israel, além das mudanças climáticas e dos desafios sociais e políticos que afetam vários países. Nesse contexto, a pergunta deixou de ser "as empresas enfrentarão crises?" para "quando ocorrerá a próxima crise?", ou seja, ela pode vir de qualquer causa e a qualquer momento, o que exige que as empresas reavaliem suas operações e se adaptem rapidamente.

Nicolas Touchet afirmou que, apesar das dificuldades, o caos atual oferece uma oportunidade de reflexão e revisão das práticas empresariais. Ele mencionou paradoxos da economia global, como o crescimento econômico de um lado e a escassez de recursos de outro. Ele também destacou a digitalização, que traz novas ameaças cibernéticas, e a crescente escassez de mão de obra, que contrasta com a discriminação da força de trabalho formada por pessoas acima de 50 anos.

Vincent Parachini lembrou a conhecida expressão de que o Brasil é "o país do futuro", mas alertou para desafios persistentes no país. Ele destacou que a produtividade laboral no Brasil tem regredido em comparação com países emergentes como China e Índia. Nesses países a produtividade triplicou nos últimos anos, enquanto a brasileira caiu 50%, situação que apresenta um obstáculo significativo para o desenvolvimento econômico.

Durante o evento, Blavier questionou a preparação do Brasil para a gestão de crises. Laurent Serafini respondeu que o fator humano é essencial nesse processo. Ele enfatizando que a resiliência, que é uma característica marcante do povo brasileiro, pode ser um diferencial importante frente a situações de crise. Ele destacou que, hoje, o Brasil está mais alinhado com as demandas globais do que há 15 anos, quando a disparidade em relação aos países desenvolvidos era muito maior.

O potencial do Brasil foi citado de forma otimista por Parachini, que elogiou a habilidade do brasileiro em lidar com imprevistos. “Os brasileiros têm uma capacidade notável de adaptação e trabalham muito com dedicação e inteligência emocional. Essa resiliência é um ativo valioso que pode ajudar o país a enfrentar os desafios atuais e futuros”, afirmou.

Por fim, Raquel Busnello perguntou sobre dicas para empresários interessados em investir no Brasil. Serafini enfatizou a importância de investir em capacitação e treinamento contínuo, além de destacar que os gestores devem focar em desenvolver inteligência econômica — ou seja, a habilidade de adquirir informações qualificadas para a tomada de decisões estratégicas. Ele concluiu que, para se tornarem relevantes e competitivas no mercado tão dinâmico, as empresas precisam adotar novos modelos de negócio, mais conectados à cadeia de valores.

Confira a gravação do evento completo:

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