Seminário debate a participação de mulheres na Ciência

Apesar do impacto das novas tecnologias gerar demandas por profissionais e pesquisadores especializados nas áreas de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), a participação de mulheres nesses setores ainda é bastante desequilibrada. Para  debater os desafios e o papel do setor produtivo e de instituições de ensino no fomento ao crescimento da presença de mulheres e meninas na Ciência, a Firjan, com apoio da CCI França-Brasil, e em parceria com a ONU Mulheres, Unesco e White Martins, promoveu o seminário Mulheres na Ciência no dia 11/02, com a mediação da jornalista Flávia Oliveira.

A programação reuniu depoimentos inspiradores de mulheres com diferentes experiências e idades, mas com a paixão pela Ciência em comum. Engenheiras, físicas, geólogas, executivas, estudantes e pesquisadoras compartilharam projetos, histórias de vida, estudos de caso, e promoveram diálogos guiados pelas temáticas de três painéis: Mais meninas nas STEM – desafios e oportunidades; O papel das Universidades em atrair e reter as mulheres nas áreas de STEM do ensino superior; e Caminhos para a superação dos desafios encontrados pelas mulheres nas STEM.

De acordo com dados da Unesco, apenas 28% da pesquisa mundial é conduzida por mulheres, quadro que se repete no Brasil. Para Fabio Eon, coordenador de Setores de Ciências Naturais e de Ciências Humanas e Sociais da Unesco, o acesso à Ciência deve ser tratado como um direito humano, fomentador de desenvolvimento econômico. Ele ressaltou que as diferenças começam na infância quando há incentivos a brincadeiras e profissões distintas entre meninos e meninas, situação que acaba se reproduzindo na vida adulta.

“Mesmo com melhorias expressivas no ensino e acesso à educação, a desigualdade ainda persiste. Por isso, precisamos identificar lacunas em políticas públicas nacionais de Ciência e Tecnologia e cobrar do poder público o compromisso com políticas de igualdade de gênero”, afirmou.

No setor produtivo, Adriana Carvalho, gerente para os Princípios de Empoderamento Econômico da ONU Mulheres, destacou a questão da remuneração nas áreas de STEM, que apesar de se mostrar atrativa no mercado ainda é desigual entre homens e mulheres. Ela apresentou o programa Ganha-Ganha: Igualdade de gênero significa bons negócios, que através dos WEPs – sigla em inglês para os “Princípios de Empoderamento das Mulheres” – busca promover a diversidade e equidade de gênero no setor empresarial. “É importante criar meios para que se as mulheres optarem por seguir carreiras em STEM, elas tenham as mesmas oportunidades”, avaliou.

Viés inconsciente e interseccionalidade
Entre os obstáculos enfrentados nos processos de fomento ao ingresso de mulheres na Ciência, o debate trouxe para reflexão dois pontos principais: o viés inconsciente e a interseccionalidade. Experiências e situações vivenciadas criam estereótipos e crenças que acabam por influenciar o comportamento de indivíduos no dia a dia de instituições de ensino e empresas. Trata-se do viés inconsciente em ação desde a formação de meninas até o desenvolvimento das carreiras de mulheres. “Cargos de liderança são ocupados por homens que acabam por contratar profissionais com perfil semelhante ao deles. E, como eles são a maioria, isso acaba se perpetuando”, afirmou Sylvia Porto dos Anjos, Geóloga e gerente geral de Tecnologias Aplicadas da Petrobras.

O tema da interseccionalidade foi transversal a todas as temáticas do Seminário. “Em um país, onde 54% das pessoas se declaram negras, é fundamental que as empresas façam a interseccionalidade entre gênero, raça e etnia”, orientou Adriana Carvalho, gerente para os Princípios de Empoderamento Econômico da ONU Mulheres.

Incentivo: Para Mulheres na Ciência
O programa L’Oréal-UNESCO-ABC Para Mulheres na Ciência, primeira iniciativa dedicada a mulheres cientistas no mundo, foi um dos temas a integrar o evento. No Brasil, desde 2006 o programa seleciona pesquisadoras de diversas áreas de atuação para serem contempladas via bolsa-auxílio, e assim, viabilizar projetos e pesquisas. O prêmio distribuiu, até hoje, mais de R$ 3,9 milhões entre 89 mulheres cientistas promissoras, que receberam suporte extra para dar prosseguimento em seus estudos. “O objetivo é promover e encorajar mulheres brasileiras na Ciência, proporcionando oportunidade de impulso em suas carreiras”, explicou Stephanie Tardin, Analista de Comunicação da L´Oréal Brasil.

Meninas na Ciência: Depoimento de Francielly Barbosa
O depoimento de Francielly Barbosa – cidadã de Moju, no Pará, e aluna do 3° ano do Ensino Médio da rede pública – foi um dos grandes destaques do evento. A adolescente de 17 anos participou de sua 1ª feira de Ciências aos 8 anos, e foi premiada na FEBRACE – Feira Brasileira de Ciências e Engenharia – em 2018, com o projeto Utilização de lixo na fundação de casas na Amazônia: problema ou solução?. Francielly está também entre os finalistas da FEBRACE 2019, com o projeto A casa de açaí: material de construção à base de caroço de açaí como alternativa segura, sustentável e acessível às comunidades da periferia amazônica.

Confira a programação completa do evento:

Abertura
Ana Paula Caporal, Vice-presidente do Conselho Empresarial de Responsabilidade Social da Firjan
Gilney Bastos, Presidente da White Martins
Fabio Eon, Unesco Coordenador do Setor de Ciências Naturais e de Ciências Humanas e Sociais
Adriana Carvalho, Gerente dos Princípios de Empoderamento das Mulheres da ONU Mulheres, Carlo Pereira, Secretário-executivo da Rede Brasil do Pacto Global

Painel 1

Mais meninas nas STEM: desafios e oportunidades
Amália Fisher, Coordenadora geral do Fundo Elas
Sylvia Porto dos Anjos, Geóloga
Camila Momede, Engenheira de Produção
Celina Figueiredo, Professora da Coppe UFRJ, Doutora em Engenharia de Computação
Fernanda Campos Furtado, Geóloga

Depoimentos:
Francielly Barbosa, jovem cientista
Maria do Carmo Scuccuglia, Engenheira Elétrica
Vinícius do Nascimento, Professor do Programa SESI Matemática

Painel 2
O papel das Universidades em atrair e reter as mulheres nas áreas de STEM do ensino superior
Ricardo Henriques, Superintendente executivo do Instituto Unibanco
Stephanie Tardin, Analista de Comunicação da L´Oréal Brasil
Giovanna Machado, Pesquisadora e idealizadora do Programa Futura Cientistas
Katemari da Rosa, Física, professora da UFBA
Laura Morae, Engenheira de Computação

Painel 3
Caminhos para a superação dos desafios encontrados pelas mulheres nas STEM
Corinne Giely, Coordenadora do Programa Inspiring Girls
Cristina Fernandes, Diretora de Talentos da White Martins
Ana Lucia Zambelli, Engenheira Mecânica
Sônia Guimarães, Física, professora do ITA

 

(Foto: Vinícius Magalhães)

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