O debate busca envolver a sociedade com o propósito de estimular uma mudança no comportamento das pessoas que enfrentam doenças cardiovasculares
O crescente e alarmante número de pessoas sofrendo com a hipertensão e como o engajamento digital dos pacientes pode ajudar a mudar este quadro foi o tema da discussão do Encontros O GLOBO realizado na última terça-feira, 31. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) foi representada pela presidente do Conselho Administrativo da SBC, Andrea Brandão. Também participaram dos debates a presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, Marlene Oliveira, o subsecretário de Atenção Primária, Promoção e Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, Renato Cony, a diretora nacional da Cardiologia D’Or, Olga Ferreira de Souza, a diretora de Prevenção Cardiovascular da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj), Erika Campana e o educador físico Márcio Atalla.
O objetivo do encontro foi dar o pontapé inicial na criação de uma “onda” de conscientização e engajamento, envolvendo agentes públicos e privados de saúde e a sociedade, para reduzir o número preocupante de mortes por razões cardiovasculares – mais de 300 mil por ano[1] – no Brasil.
“A ideia é engajar a sociedade para fomentar uma mudança significativa no comportamento de quem sofre com doenças cardiovasculares, proporcionando, por meio da educação e da tecnologia, um incentivo à adoção de comportamentos de vida saudável, ao automonitoramento da pressão arterial e à adesão ao tratamento”, ressalta Erika Campana.
O Brasil enfrenta nas últimas décadas uma crise preocupante e crescente de saúde relacionada às doenças cardiovasculares, sendo a hipertensão arterial o principal vilão. Atualmente, quase metade da população brasileira entre 30 e 79 anos (45%) é hipertensa[2], ou seja, convive com a “pressão alta”.
A situação se agrava ao observar que 50% dos pacientes sequer são diagnosticados[3], deixando muitos à mercê dos riscos associados à doença. Já entre os que sabem que são hipertensos, em todo o mundo, apenas 30% conseguem manter a pressão arterial sob controle[4], 19% no Brasil1, o que aumenta de forma significativa o risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecido como “derrame”, infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca.
Dentre as razões para essa baixa taxa de controle destaca-se a falta de adesão dos pacientes ao tratamento recomendado, tanto aquele relacionado às mudanças do estilo de vida, quanto ao uso correto dos medicamentos prescritos, o que pode chegar a 60% dos pacientes com doença cardiovascular[5].
As consequências dessa falta de engajamento dos pacientes hipertensos ao tratamento são trágicas, e incluem o aumento dos casos de hospitalização, absenteísmo no trabalho e aumento dos custos da saúde pública, isso sem falar no aumento da mortalidade cardiovascular, com um elevado número de pessoas que perdem a vida por complicações das doenças cardiovasculares.
“É urgente sensibilizar pacientes, gestores de saúde e a sociedade como um todo sobre os perigos da hipertensão e das doenças cardiovasculares, mas também oferecer soluções concretas para enfrentar esses desafios. Neste cenário temos como aliadas ferramentas digitais que ajudam no engajamento no tratamento e no automonitoramento da pressão arterial”, alerta Andrea Brandão.
Somadas, as chamadas “Doenças Cardiometabólicas”, que incluem hipertensão, diabetes e angina do peito, são a causa número um de mortes em todo o mundo[6]. Dois em cada 3 pacientes com hipertensão têm alguma doença associada, e 2 em cada 3 pacientes com alguma comorbidade têm hipertensão. Dos 16 milhões de brasileiros portadores de diabetes tipo 2, por exemplo, 60% também são hipertensos. Já entre os 24 milhões que sofrem com angina do peito, o percentual de quem também apresenta “pressão alta” chega a 64%.
“Esses números tendem a diminuir através de mudanças comportamentais4, como reduzir ou cessar o uso de tabaco, melhorar a alimentação, controlar o peso, aumentar a atividade física e reduzir o consumo de álcool, mas nenhum tratamento se mostra eficaz se o paciente não entende a doença e, por conta disso, não se engaja na terapia”, completa Andrea Brandão.
Justamente pensando nisso, surgiu a ideia de fomentar uma onda de inovação para associar, de forma abrangente, inovação digital, reconhecimento da motivação do paciente em se tratar e seguimento do tratamento a longo prazo, colocando o paciente no centro do processo de cuidado.
Um dos conceitos fundamentais apresentados no encontro foi a utilização de soluções digitais para ampliar o acesso dos pacientes a informações valiosas relacionadas à própria doença, e que podem complementar, sem substituir, aquelas obtidas durante a consulta médica. Dentre as iniciativas está o acesso a um aplicativo gratuito – já disponível para download no Brasil na Apple Store e no Google Play – chamado Elfie, que se baseia em modernos conceitos de engajamento, permitindo que os pacientes se tornem protagonistas da própria saúde.
A conclusão do encontro foi que é necessário criar uma discussão de frente ampla, envolvendo todos os atores, tanto o SUS quanto a Saúde Suplementar, além da sociedade para construção de uma meta ambiciosa no controle da pressão arterial, com ações educativas e acompanhamento da evolução de dados de saúde da população através de ferramentas digitais, com ações coordenadas que alcancem a todos, desde a conscientização pública até o engajamento dos gestores da saúde e dos próprios pacientes.
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