A propagação da pandemia do novo coronavírus (COVID-19) vem impactando, diariamente, diversas startups de diferentes setores. Dentre eles, o setor bancário, varejista, tecnologia, hoteleiro e turismo.
Com mais de 160 mil casos confirmados e cerca de 11.519 óbitos só no Brasil, muitas empresas foram obrigadas a interromperem seus serviços durante a quarentena estabelecida por entidades de saúde, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde; e pelo governo federal.
A medida, no entanto, acarretou em uma série de impactos para essas empresas.
Sem previsão para o encerramento da pandemia, lideranças se viram na obrigação de reduzir os custos para sobreviverem à pandemia do COVID-19.
Diante dos inúmeros cancelamentos de voos devido à crise do coronavírus, muitas startups de serviços aéreos se viram na necessidade de demitir parte considerável de seus times de funcionário.
Entre as startups do setor está a brasileira MaxMilhas. A startup brasileira que media a compra e venda de pontos e milhas em programas de fidelidade de empresas aéreas, contava com um time de aproximadamente 400 funcionários. Após a crise, precisou cortar cerca de 42% de sua equipe. O valor é equivalente a 167 desligamentos.
O impacto provocado pela pandemia do COVID-19 nas startups é tão marcante que até mesmo startups unicórnios, ou seja, empresas avaliadas em US$1 bilhão ou mais, também precisaram demitir funcionários para poupar gastos.
A unicórnio brasileira, Gympass, que conecta funcionários de empresas a uma rede de academias por meio de um serviço de benefícios corporativos, foi afetada pelo fechamento das academias em meio à quarentena, o que também levou a uma onda de cancelamentos de seus usuários. Em comunicado, a empresa não divulgou o número de demissões, mas disse que “precisou de mudanças para cortar custos”.
Um estudo realizado pelo jornal americano The New York Times indicou que, em poucas semanas, mais de 50 startups do Vale do Silício, na Califórnia, cortaram ou deram férias coletivas a aproximadamente 6 mil funcionários.
De acordo com o estudo, os planejamentos para ofertas públicas iniciais ficaram para outro momento mais propício. Como resultado, tanto as startups mais destacadas quanto as menores foram afetadas.
O estudo revelou ainda que startups de viagens foram uma das mais afetadas. Em março deste ano, as ofertas de emprego nas 30 startups mais valorizadas nos Estados Unidos caíram 19%, o equivalente a uma média de 21 empregos cada uma. Os dados são da Thinknum Alternative Data, uma empresa de pesquisa.
Além de reduzir custos, muitas startups procuraram ajuda financeira para tentar sobreviver à crise causada pela pandemia.
O Airbnb, startup americana de aluguel de casas, anunciou que precisou pegar US$1 bilhão em empréstimos. A empresa, antes avaliada em US$ 31 bilhões, parou de contratar e suspendeu cerca de 800 milhões de dólares como forma de reduzir custos. Hoje, a startup reduziu sua avaliação para US$26 bilhões.
A pesquisa “ O impacto do coronavírus nos pequenos negócios”, realizada pelo Sebrae, revelou que mais da metade dos donos pequenos negócios (60%) que já buscaram crédito no sistema financeiro desde o início da crise do coronavírus tiveram o pedido negado.
Em algumas empresas e startups, no entanto, reduzir os custos ou pedir empréstimos não foi suficiente para se manter diante da crise, levando-as a declararem falência.
Ainda de acordo com o estudo do Sebrae, mais de 62% dos negócios interromperam temporariamente as atividades ou fecharam as portas definitivamente. 3,5% dos entrevistados decidiram fechar de vez.
A OneWeb, startup operadora de satélites que havia levantado US$ 3 bilhões em financiamentos de risco de investidores como o conglomerado japonês, SoftBank, entrou recentemente com pedido de falência e planeja a sua venda.
Já a multinacional japonesa Softbank, conhecida por investir em startups, através do Vision Fund, prevê o fechamento de 15 empresas apoiadas pelo grupo devido à pandemia.
Especialistas de riscos brasileiros afirmam estar aconselhando startups a aumentarem ou preservarem seus caixas durante o crítico momento.
É possível perceber que as startups estão divididas em dois grupos: o primeiro é feito de startups que viram uma grande queda nas receitas e têm o caixa apertado, forçadas a reduzir rapidamente seus custos. Já o segundo grupo é feito de startups que estão vendo um crescimento acelerado ou receberam um investimento recente, garantindo caixa para investir em marketing digital B2B e vendas quando esses serviços estão mais baratos.
“Não existe uma mesma resposta para todo mundo e cada um tem que pensar em sua estratégia”, explicam.
Com o comércio de portas fechadas devido à quarentena, esses especialistas reforçam que empreendedores em busca de novos recursos terão dificuldades para encontrá-los no momento. O dinheiro existe, mas as negociações podem ser seguradas em alguns fundos.
O movimento das startups fazendo a ruptura de mercados dominados por grandes empresas só será mais forte e mais rápido.
Na segunda quinzena de março, o setor hoteleiro no Brasil perdeu R$ 11,96 bilhões em volume de receitas. O valor corresponde a uma queda de 84% no faturamento em relação ao mesmo período de 2019. Os dados são da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
No âmbito mundial, a Organização Mundial do Turismo (OMT) prevê um retrocesso entre 20% e 30% do turismo internacional, em 2020, devido ao coronavírus.
Para conter os impactos no segmento, startups apostam em tecnologias e iniciativas inovadoras, como é o caso da VOA Transformação Hoteleira.
Para ajudar pequenos e médios hotéis, a mais recente startup criada pelo mesmo dono do Hotel Urbano automatiza processos de gestão e precificação de pequenos hotéis espalhados pelo Brasil por meio de Inteligência Artificial.
Outros setores também estão usando o digital como forma de dar continuidade aos negócios, uma vez que a quarentena exige isolamento social e cada vez mais startups estão apostando em modelos de trabalho remoto (home office ou teletrabalho).
Estudos concluem que 43% das empresas brasileiras (43%) já adotaram o modelo de trabalho remeto por causa da pandemia.
Já um levantamento realizado pela Ticket, marca da empresa de soluções transacionais, Edenred, associada da Câmara de Comércio França-Brasil São Paulo (CCIFB-SP), concluiu que o volume de pessoas em home office chega a sete em cada dez trabalhadores.
A empresa também aposta no sistema de trabalho remoto como estratégia durante o coronavírus. Segundo a Ticket, é necessário adaptar a rotina para o bem-estar de suas pessoas, equilibrando com o mínimo impacto em suas atividades neste período crítico.
A solução encontrada nas plataformas digitais fez ainda com que startups de videoconferências, como a Zoom, crescesse mesmo em tempos difíceis.
Para sobreviver à crise, a startup de ginástica norte-americana, ClassPass, passou a oferecer serviços de streaming em vídeo de ginástica virtual.
Apesar da crise em muitos setores, o isolamento social por conta da pandemia contribuiu para startups de delivery, como o Rappi e o Ifood, aumentarem suas receitas.
Em nota, a colombiana Rappi afirmou ter registrado, em março deste ano, um pico de 300% no número de pedidos de cadastros de entregadores no app e está recrutando entregadores parceiros.
Além disso, a startup registrou um aumento de 30% do número de pedidos em toda a América Latina nos dois primeiros meses de 2020 em comparação com os dois últimos de 2019, com destaque para as categorias de farmácia, restaurantes e supermercados. Só no Brasil, na segunda semana de março a empresa registrou um aumento de 10% no volume de pedidos na vertical de farmácias.
Na brasileira Ifood, a quantidade de entregadores passou de 147 mil para 170 mil de fevereiro para março. Outro dado relevante é o aumento de cadastros. Cerca de 175 mil pessoas fizeram um pedido para entrar na plataforma em março, ante 85 mil no mês anterior.
Vale destacar que ambas startups de delivery afirmaram estar tomando as cautelas necessárias de segurança e higiene, recomendadas pelo Ministério da Saúde.
Startups de comércio eletrônico, ou e-commerce, como a Eu Entrego, que conecta entregadores autônomos a empresas, viu um aumento de cinco vezes nos pedidos de supermercados e mercearias. O aumento pode ser explicado pelo aumento de compras pela internet. Dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm) informam um aumento de 30% nas vendas pela internet durante as duas primeiras semanas de abril.
Apesar da crise, o momento é oportuno também para startups a área de saúde, principalmente aquelas que utilizam tecnologia inteligente para aprimorar o setor. Com a população impedida de sair de casa e com risco de se infectar em hospitais e entidades de saúde, as chamadas health techs utilizam tecnologia para potencializar os serviços, exames e diagnósticos voltados para a área da saúde, mostrando-se uma área promissora para o mercado.
Um estudo realizado pela aceleradora Liga Ventures, concluiu que existem, atualmente, 263 startups de saúde no Brasil. Uma delas é a Triágil que aproveitou o momento para criar um aplicativo que analisa se o paciente está infectado ou não.
Outras startups, como a Go Compass, que não é da área da saúde e fez um aplicativo que organiza melhor a vida na quarentena em um prédio de São Paulo, tentam ajudar na situação, ao combinar tecnologia com inteligência para ajudar a medicina a combater o vírus.
É um momento interessante, com uma progressiva digitalização em setores como saúde, comércio, entregas, serviços financeiros e educação.
A pandemia do COVID-19 afetou pessoas, empresas e startups. Muitos empreendimentos estão na luta por caixa e manutenção de receitas. No caso de startups, os investimentos dos fundos estão pausados até a incerteza passar.
No entanto, algumas startups veem um forte aumento na sua demanda e, com isso, forte crescimento durante a pandemia do coronavírus.
Recentemente a Comissão de Startups da CCIFB realizou um webinar com representantes das startups Onii, Transfeera e Zenklub para que fosse compartilhado com os participantes as melhores práticas que permitiram o sucesso das startups no período.
A Onii, empresa que trouxe para o Brasil um modelo de loja autônoma que funciona dentro de condomínios, fábricas, hospitais e postos de gasolina, está com um faturamento estimado de R$20 milhões em 2020. A proposta da loja autônoma é fazer com que seja possível, uma vez o aplicativo instalado no celular, entrar no espaço e comprar os produtos desejados — sem precisar interagir com ninguém.
No caso da Transfeera, a startup viu sua receita crescer 30% ao mês no primeiro trimestre de 2020, em comparação com os 10% ao mês vistos em 2019. A Transfeera dá suporte de validação de identidade e de transações financeiras para operações de delivery. Além disso, faz mediação de pagamentos para empresas a taxas menores e validação de contas bancárias e de identidades.
Por fim, a terceira startup que participou do webinar, a Zenklub, plataforma de saúde emocional, bem-estar e desenvolvimento humano, teve um aumento de 160% de acessos na plataforma e um aumento de 90% no número de clientes.
Com a missão de fomentar o ecossistema de inovação e empreendedorismo brasileiro, a Câmara de Comércio França-Brasil conta com uma Comissão de Startups responsável por promover a aproximação de brasileiros com empresários e empreendedores franceses, dentro do contexto da transformação digital.
Com 120 anos de trajetória, a CCIFB é a mais antiga câmara de comércio bilateral em atuação no Brasil e a maior câmara francesa da América Latina.
Seu duradouro e reconhecido trabalho ao longo dos anos faz com que atue como interlocutora de diversos órgãos no mundo dos negócios e seja parceira de diversas câmaras regionais pelo mundo.
Adicionalmente, faz parte do Conselho das Câmaras de Comércio da União Europeia (Eurocâmaras de São Paulo), para uma ação coesa e positiva do empresariado no Brasil.
Com mais de 770 associados, as unidades regionais da CCIFB (Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Paraná) e sua grande representação no Rio Grande do Sul formam uma ampla rede de atuação, estimulando o desenvolvimento das relações econômicas, financeiras, comerciais, industriais, científicas e culturais entre Brasil e França.
Frente à pandemia do Coronavírus, a Comissão de Startups da CCIFB incentiva cada vez mais startups e empresários a investirem no digital para darem continuidade a seus negócios.
Além disso, o vice- presidente do Carrefour e atual presidente da Câmara de Comércio França-Brasil (CCIFB-SP), Stephane Engelhard reforça que junto com empresas francesas, a CCIFB está acompanhando de perto os desdobramentos do coronavírus no país de modo a dar o melhor suporte para seus associados.