Mulheres inspiradoras: trajetórias para inspirar jovens estudantes e promover a diversidade

Programa compartilhou histórias de mulheres e seus percursos profissionais para contribuir com a formação de meninas na área de STEM.
Iniciativa é uma parceria entre a CCIFB-RJ, o Lycée Molière e a ONG Inspiring Girls  

Como ampliar os horizontes de jovens estudantes no contexto profissional e auxiliar o ingresso de meninas em carreiras ainda com baixa representatividade de mulheres? O programa Mulheres Inspiradoras contou com apoio de quatro profissionais com diversidade de perfis e experiências, mas tendo pontos em comum nas suas trajetórias, para estimular a formação de meninas nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM). A ação é uma parceria entre a CCI França-Brasil no Rio de Janeiro, o Lycée Molière e a ONG Inspiring Girls.  

A partir de depoimentos de mulheres sobre seus percursos e o desenvolvimento de suas trajetórias profissionais, a iniciativa tem como objetivo despertar o interesse e contribuir com o ingresso de meninas nas áreas de STEM. Quatro encontros online foram realizados com alunas e alunos do Lycée Molière do Rio de Janeiro, estabelecimento convencionado com a AEFE (Agence pour l’enseignement français à l’étranger). As sessões contaram com uma participação média de 30 estudantes. 

Ainda que a transformação digital e a expansão de novas tecnologias gerem maior demanda por profissionais de STEM, as mulheres ainda são sub-representadas na área. No âmbito da pesquisa, o cenário se repete. De acordo com a UNESCO, apenas 28% das pesquisas no mundo são conduzidas por mulheres, quadro semelhante ocorre no Brasil.

Desenvolvimento profissional e maternidade

Annie Fidel-Dufour, engenheira líder em garantia de escoamento e tratamento de Petróleo & Gás na Total E&P do Brasil, foi uma das participantes dos encontros. Ela apresentou seu percurso pessoal e profissional sob a forma de um “carnê de viagem”, caracterizado pela busca de conhecimento constante e forte curiosidade técnico-industrial desde a adolescência. 

Por atuar em um setor industrial que exige grande mobilidade internacional, Annie contou  que teve longos períodos de separação da família quando aceitou desafios profissionais em outros países. “Durante minha experiência nas plataformas petrolíferas em Angola, meus filhos eram pequenos e ficaram na França com meu marido. Foi minha escolha e não foi fácil, mas pude demonstrar, juntamente com meu companheiro, que ambos éramos capazes de cuidar de nossos filhos.” A profissional também compartilhou iniciativas do grupo Total para promover a igualdade de gênero dentro da empresa, como a rede TWICE – Total Women’s Initiative for Communication and Exchange, criada em 2006 com atualmente mais de 4.000 membros em todo o mundo.

A maternidade também foi ponto marcante na trajetória de Raquel Calbino, responsável de Treinamento & Desenvolvimento da Michelin América do Sul. Com uma carreira desenvolvida em Engenharia Industrial, a engenheira se viu diante de dois desafios ao mesmo tempo: a transição de área profissional e sua gestação. Grávida, Raquel participou de um processo seletivo interno na Michelin para atuar na área de Recursos Humanos. Apesar do desejo de conquistar a nova posição, ela contou que não esperava ser admitida na seleção.

“Para minha surpresa fui admitida para a vaga. A empresa tomou a decisão de ficar oito meses sem gestor, e esperar o meu retorno da licença maternidade para assumir o novo posto. Há dois pontos importantes nessa história. Às vezes imaginamos que a gravidez e ser mãe podem ‘atrasar’ nossa vida profissional. Eu tive um excelente exemplo dentro da empresa que não é dessa forma. Me mostrou na prática o engajamento da Michelin com a feminização, respeito às pessoas e flexibilidade. Sempre atuei na parte de processo industrial, e agora estou indo para o RH. É uma grande mudança”, contou.

“Síndrome da impostora”: existe lugar e hora certos?

A falsa ideia de lugar e momento certos para o desenvolvimento profissional de mulheres gera muitas vezes questionamentos sobre qual percurso seguir, o que pode desestimular meninas e profissionais a avançarem em STEM.     

“Mulheres sentem muitas vezes a ‘síndrome da impostora’ – sentimento de que não merecemos estar neste lugar, que não estamos à altura. Isso acaba nos consumindo, e às vezes faz nos afastar das nossas ambições. Minha mensagem simples é: sim, vocês merecem. Sim, estão à altura. Parem de duvidar. Eu ainda estou trabalhando isso em mim, diariamente”, compartilhou Julie Cransac, Cross-Functional Manager na VINCI Energies Brasil, também participante da série de encontros online com os estudantes. 

Com formação em Engenharia Industrial pela École Centrale Paris e Universidade Federal do Rio de Janeiro, a profissional é responsável por atuar em missões envolvendo áreas como cultura de inovação, segurança, consciência ambiental, gestão de suprimentos, entre outras. “A diversidade apareceu naturalmente para mim como uma prioridade a ser considerada em todas as nossas ações no Grupo”, destacou ao mencionar a adesão da VINCI Energies ao Women’s Empowerment Principles (WEPs) da ONU Mulheres, acordo que orienta a promoção da igualdade de gênero nas empresas.

Mulheres na Ciência

Cristina Garcia, Diretora Científica da L´Oréal Brasil, formada em Engenharia Química pela Chimie Paris-Tech, também compartilhou momentos-chave da construção de sua trajetória profissional e acadêmica.

“Um programa de incentivo à formação de meninas em STEM é sempre muito importante para promover uma maior participação feminina nessas áreas, que tradicionalmente possuem predominância masculina, e para as quais muitas meninas em idade de decidir qual caminho seguir na carreira têm um certo receio de escolher, pois acham que será mais difícil encontrar seu lugar. Esse tipo de programa desmistifica um pouco essa ideia pré-concebida, traz modelos inspiradores, e mostra que é possível”, avaliou. 

Entre as ações do Grupo L’Oréal para promoção da diversidade e incentivo à pesquisa e inovação está o programa “Para Mulheres na Ciência”, iniciativa global desenvolvida em parceria com a UNESCO que premia anualmente desde jovens cientistas até pesquisadoras consagradas. “Além do prêmio, a L’Oréal participa e promove no Brasil várias iniciativas, como mesas redondas em universidades e visitas ao Centro de Pesquisa do Grupo, para debater o tema e inspirar estudantes e jovens cientistas a seguir uma carreira científica. Somos sempre abertos a fazer parcerias com instituições que buscam o mesmo resultado”, destacou.

Sobre os parceiros da iniciativa

Para a realização dos encontros online do programa Mulheres Inspiradoras, a CCIFB mobilizou a participação de profissionais representantes de empresas membro, com diferentes perfis atuantes em STEM. A ONG Inspiring Girls contribuiu a partir de sua expertise no tema e interação prévia com as profissionais, focada na preparação dos encontros. Parceiro da Câmara em ações anteriores, como o Fórum des Métiers, o Lycée Molière organizou os encontros virtuais alinhados com suas missões de informação e orientação.