O mercado do luxo é incomparável, é escasso, é raro e para poucos. Com o objetivo de aprofundar os estudos e refletir o impacto da relação globalização e cultura no mercado do luxo, Renato Ortiz, professor-titular de sociologia da Unicamp, acaba de lançar o livro “O universo do luxo”.
Segundo Ortiz, apesar dos objetos de luxo estarem presentes em “todos” os lugares, continuam sendo inacessíveis para a maioria. Não à toa, ele afirma que o universo do luxo está presente em espaços específicos, como por exemplo, na Madison Avenue (Nova York), News Bond Street (Londres) e distrito de Ginza (Tóquio).
Isso significa, de acordo com o especialista, que esse universo do luxo é constituído por pontos descontínuos, mas que estão interligados por esse mundo simbólico, por meio da prática das pessoas. Há, portanto, um esforço de classificação, de hierarquização que esse mundo permite. Viver o luxo é viver uma experiência “superior” e faz parte de uma construção simbólica, um padrão que passa a ser transacional.
Ortiz ressalta que não importa mais ter o objeto de luxo, pois é preciso ter acesso ao padrão do luxo, ao contexto do luxo. Ele sinaliza que um dos desafios hoje é distinguir o luxo dessa dimensão simbólica. Como o universo do luxo vem construindo esse sentido? Nesse sentido, Ortiz ressaltou o “Efeito Veblen”, destacando a obra “Teoria da classe ociosa”, do economista e sociólogo norte-americano Thorstein Veblen.
As empresas do luxo na visão de Ortiz detêm, portanto, um duplo monopólio. Primeiro porque possuem o monopólio do luxo no mundo, mas também possui o monopólio da definição do que é luxo e isso significa que eles podem definir o que é e o que não é luxo. Possuindo, portanto, um capital financeiro e um capital simbólico, ressaltou.
Sobre o livro “O universo do luxo”
Considerar o luxo objeto de estudo, como faz Renato Ortiz nesse livro, revela muito da nossa relação com os objetos na contemporaneidade. O mundo do consumo nos rodeia e nos permite pensar diferentes fenômenos que transitam entre a linha fina da economia e da sociedade. Ortiz quer entender como se dá a desterritorialização dos objetos de luxo, ou seja, a maneira como determinados bens simbólicos afastam-se de suas raízes locais ou nacionais e tornam-se símbolos de status. Bolsas, roupas, maneiras de vestir, frequência à restaurantes, viagens espetaculares, tornam-se sinônimos de “bom gosto” e de afirmação pessoal.
O luxo é um a maneira de viver. Ele pressupõe a existência de um universo com regras próprias no qual as pessoas estão inseridas; é preciso fazer parte deste “clube” para entender o seu mecanismo, sua maneira de funcionar. O mundo do luxo realiza-se no mundo dos ricos, como frisa o sociólogo. Um vestido Dior é apenas um vestido, um ponto desconexo, se não estiver articulado a outros objetos, como lenços Hermès, bolsas Louis Vuitton, relógios Rolex, mas também à práticas específicas de distinção social, compras em boutiques de renome em Paris, frequência à restaurantes de alta gastronomia, hotéis em Dubai, viagens em iates. São essas práticas e objetos que definem os contornos de um universo , conferindo-lhe um caráter de autenticidade e singularidade.
Sobre Renato Ortiz
Renato Ortiz nasceu em Ribeirão Preto (SP) em 1947. Professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), tem gradução em sociologia pela Université de Paris VIII (1972) e doutorado em Sociologia/Antropologia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (1975). Referência nos estudos sobre indústria cultural, modernidade e mundialização, Ortiz foi professor visitante e convidado em diversas instituições fora do país, como New York University, Notre Dame University (Indiana), Stanford University, Institut de l’Amerique Latine (Paris), Leiden University (Holanda) e Universidad de Buenos Aires. É autor, entre outros, dos livros: A Consciência Fragmentada, Pierre Bourdieu, Cultura Brasileira e Identidade Nacional, Cultura e Modernidade, O Próximo e o Distante: Japão e Modernidade – Mundo e Mundialização: Saberes e Crenças.
Vídeo sobre o livro “O universo do luxo”